Carteira refugiada do Irã conquista vaga: “Esperança me levou aos Jogos”

Sem bandeira, iraniana refugiada na Bélgica estará na Rio 2016 / Foto: WTF / Divulgação

Rio de Janeiro – Da rotina corrida de entregar cartas de casa em casa na Antuérpia, segunda maior cidade da Bélgica, ao tatame do taekwondo nos Jogos Rio 2016: é essa a troca que a iraniana Raheleh Asemani fez ao conquistar a vaga heróica na modalidade, mesmo competindo com a bandeira da Federação Internacional de Taekwondo (WTF).
 
Antes de se tornar carteira, a vida de Asemani já havia sofrido alguns baques delicados. Em 2008, aos 19 anos, a jovem iraniana foi escalada para lutar na Holanda e teria pela frente uma adversária de Israel, país historicamente rival do Irã. Foi recomendado a ela que não cumprimentasse a oponente, deixasse o tatame e saísse dando as costas. A jovem atleta se recusou a negar os valores do esporte.
 
Seu ato, porém, gerou desconforto e foi mal visto por dirigentes do esporte no Irã. A restrição e a dificuldade que se seguiram para competir fizeram com que Asemani, profissionalizada em 2009, se refugiasse na Antuérpia em 2012 e iniciasse a nova vida distribuindo cartas.
 
“Eu trabalho em uma agência dos correios, corro de casa em casa entregando cartas, mas agora eu recebi o meu ingresso para as Olimpíadas. Eu vou ao Rio. A esperança me levou para os Jogos Olímpicos, e agora eu vou fazer tudo que posso para ganhar. Sei que não vai ser fácil, teremos as melhores atletas do mundo, mas se fui capaz de realizar o meu sonho, vou dar o melhor de mim de novo”, conta a lutadora.
 
Agora, porém, com a vaga garantida para os Jogos Olímpicos depois de ter vencido o pré-olímpico europeu na sua categoria (até 57kg), treina integralmente para a oportunidade em Flandres, na Bélgica. Tirou até uma licença não remunerada dos correios e recebe um auxílio financeiro da federação belga de taekwondo. Por isso, mesmo ainda sem bandeira, Asemani já sabe quem quer representar.
 
“Eu moro na Bélgica, então, eu gostaria de lutar pela Bélgica. Mas eu ainda não recebi a minha nacionalidade. Então, posso fazer também pelo Comitê Olímpico Internacional. Só que, sinceramente, isso não importa para mim. O que importa é que vou ao Rio de Janeiro com a bandeira da Bélgica ou do COI. É o mesmo para mim”, conclui.
 
O passado da iraniana agora ficou para trás. Mesmo não sabendo se conseguirá lutar como belga, a atleta segue treinando com toda a estrutura do país e se recusa a falar de política. “Não gosto e não posso”, lamenta.
 
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