Entrevista com o técnico da Seleção Masculina, Jordi Ribera

Jordi retornou ao Brasil em 2012 / Foto: Wander Roberto/Photo&Grafia/CBHb)

São Paulo - O handebol masculino tem crescido muito nos últimos anos e conquistado resultados cada vez mais importantes. Uma boa parcela dessa evolução vem do trabalho realizado pelo espanhol Jordi Ribera. Ele treinou a Seleção Masculina de 2005 e 2007 e voltou a comandar o Brasil após os Jogos Olímpicos de Londres, em 2012. Na entrevista a seguir, ele fala um pouco do trabalho que faz pelo Brasil para buscar novos talentos e integrar todas as categorias da Seleção Masculina.
 
Os Acampamentos Nacionais de Desenvolvimento e Melhoria Técnica são o grande projeto para revelar novos talentos no Brasil. Como você trabalha com esse projeto?
 
Temos que pensar, evidentemente, na Seleção Adulta. Mas para abastecer o time principal com atletas, temos que ter uma boa categoria de base. Foi com que essa intenção que os Acampamentos foram criados. De 2005 a 2007, tínhamos atividades com 120 jogadores e capacitação técnica para treinadores em Acampamentos Nacionais. Porém, era difícil que muitos jogadores e treinadores de Estados mais afastados participassem dos encontros. Então, a partir de 2012, foram criados os Acampamentos Regionais, nos quais nós vamos até os Estados mais distantes e avaliamos um grupo mais reduzido de jogadores. Com isso, escolhemos alguns atletas para participarem posteriormente dos Acampamentos Nacionais. Em 2014 incorporamos também os cursos para árbitros dentro dos Acampamentos. Então, o projeto ajuda na revelação de jogadores e na capacitação de técnicos de árbitros.
 
O projeto foi aprovado em 2012 e o último aditivo foi finalizado em 31 de março de 2015. Infelizmente, o projeto dos Acampamentos não pôde ser executado esse ano, já que o Ministério do Esporte não abriu edital e não houve recursos para continuarmos. Ainda assim, em 2015, trabalhamos fortemente com as Seleções Juvenil e Júnior, já que neste ano tivemos os Mundiais dessas categorias.
 
O handebol masculino, sob sua coordenação, vem fazendo um forte trabalho de busca por novos atletas pelo Brasil. Para contribuir com esse projeto, você conta com a ajuda de técnicos espalhados pelo Brasil. Qual é essa contribuição?
 
Fizemos muitas atividades que integraram técnicos de várias regiões do Brasil e isso abriu um canal de comunicação entre nós. Quando eles voltam para os Estados de origem, continuam entrando em contato comigo. Quando surge um novo talento, os técnicos nos comunicam e depois nos encontramos novamente nas diversas competições que são realizadas durante o ano para conversar e ver esses atletas. Isso é muito importante, porque o handebol é praticado em todo o Brasil e porque o País é muito grande e é impossível estar presente em todos os lugares.
 
Você vai em praticamente todas as competições de categorias de base durante o ano. Em quantas você foi desde que assumiu a Seleção?
 
Não sei ao certo, mas foram muitas. Estamos em praticamente todas as competições. Se não posso estar em alguma, vai outra pessoa da comissão técnica acompanhar. Este ano, fomos aos Campeonatos Brasileiros Infantil, Cadete, Juvenil e Júnior, nas duas categorias dos Jogos Escolares da Juventude, entre outros campeonatos de jovens e de adultos também.
 
Por quantos Estados dos Brasil você já passou para conhecer esses jovens?
 
Dos 26 Estados do Brasil, mais o Distrito Federal, já passei por 24, contando minhas duas passagens pela Seleção. Só faltam Maranhão, Tocantins e Rondônia. Quem sabe eu não visite esses locais nos próximos anos?
 
Sabemos que você acompanha, inclusive, garotos que jogam em escolas, o que é mais difícil em relação aos que atuam em clubes. Como você encontra esses jovens?
 
Depois dos acampamentos que fizemos, quando vamos em competições, quase todos os jogadores estão cadastrados. Porém, quando estamos nos Jogos Escolares da Juventude, sempre encontramos novos atletas com categorias que ainda não trabalhamos. É difícil ter informação de todos esses garotos e aí entra aquele auxílio dos treinadores dos outros Estados que falamos anteriormente. Eles nos ajudam com informações desses meninos.
 
Você tem um banco de dados de jogadores de várias partes do Brasil. Quantos atletas você tem cadastrados e como acompanha a evolução deles?
 
Jogadores que trabalhamos presencialmente, nos acampamentos ou Seleções de base, são cerca de 1500 atletas cadastrados de todos os Estados do Brasil. Temos uma ficha com altura, peso, data de nascimento, clube, entre outras informações. Quando eles são chamados para algum encontro, nós atualizados essa ficha para acompanhar a evolução física e técnica de cada um.
 
Em quanto tempo você acha que os resultados de todo esse trabalho vão começar a aparecer?
 
Os resultados já estão aparecendo. Já passamos a Argentina e somos hegemonia na América. Vencemos os Pan-Americanos Cadete (representado pelo Esporte Clube Pinheiros), Juvenil e Júnior, além dos Jogos Pan-Americanos de Toronto. Nos Mundiais Juvenil e Júnior, desde 2013, estamos entre os dez primeiros colocados, fato que a Alemanha, por exemplo, não conseguiu fazer. Nos Mundiais Adultos, conseguimos a melhor colocação da história em 2013 e fizemos jogos do mais alto nível em 2015. Além disso, conquistamos resultados importantes como o do Torneio da Polônia, em março deste ano, quando vencemos na final os donos da casa, que ficaram em terceiro lugar no Mundial do Qatar, e conquistamos o torneio.
 
Você viaja o País e acaba conhecendo diversos projetos de incentivo ao handebol. Como você vê esse trabalho? Tem algum que merece destaque?
 
Todos os Estados são diferentes. Alguns têm mais infraestrutura e o esporte é mais desenvolvido, mas o mais importante é que, de alguma maneira, o handebol é praticado em todos os Estados e sempre há uma pessoa trabalhando muito pelo esporte, o que é importante para revelar novos talentos. Há muitos trabalhos bem feitos sendo realizados no Brasil, então, dar exemplos é difícil, ainda mais pela dimensão do Brasil. Posso citar alguns e esquecer de outros, mas em todos os Estados existem um ou mais projetos importantes para a modalidade.
 
Além dos jovens, você sempre está nos campeonatos nacionais e internacionais para monitorar os jogadores. Como você consegue acompanhar todas essas competições?
 
Temos informações diretas dos técnicos da maior parte dos jogadores que estão na Europa. Além disso, conseguimos acompanhar pela internet quase todos os campeonatos onde os brasileiros estão atuando no exterior. Então, podemos fazer um acompanhamento visual do jogo, mas também conversamos com os técnicos sobre o dia a dia. Ainda viajo constantemente para a Europa para assistir aos jogos e conversar com os atletas. No Brasil, caso não possa acompanhar, alguém da comissão técnica grava a partida e envia para mim. Faço uma análise de todas as situações positivas e negativas que os jogadores fizeram e depois entro em contanto para passar o que eles podem melhorar.
 
Você tem feito um trabalho em conjunto com os técnicos das categorias de base para que todas as Seleções treinem com as mesmas características táticas. Qual o objetivo desse trabalho?
 
É importante que todos esses jogadores tenham um padrão de jogo, porque à medida que eles sobem de categoria, eles não notam muito a diferença. Todas as categorias têm a mesma linguagem. Então os atletas vão evoluindo dentro do mesmo sistema tático. Se esse jogador encontrasse outro estilo de jogo, ele teria que recomeçar tudo de novo. Aqui não. Em nosso processo, o jogador sempre se identifica por onde passa e não precisa se readaptar. 
 
 

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