Falta de banheiros, água e lixeiras incomoda no evento-teste de hipismo

A 2km do circuito, lixeira mais próxima esteve assim / Foto: Esporte Alternativo

Rio de Janeiro - O circuito da prova de cross-country do hipismo, a mais rústica do CCE (Concurso Completo de Equitação) é, por natureza, difícil de acompanhar. São dezenas de obstáculos dispostas em 5,7 km de um terreno acidentado e de difícil acesso. Mas, no evento-teste da modalidade, neste sábado, a tarefa se tornou ainda mais complicada para quem quis acompanhar. 

Aberta apenas para convidados - e algumas caravanas com crianças de escolas públicas do Rio de Janeiro -, a competição, no Centro Equestre de Deodoro, no Complexo que abrigará mais de uma dezena de esportes nos Jogos Olímpicos, recebeu boa dose de críticas de espectadores. 

Falta de estrutura - Para Julio César, colaborador da Dufry, o evento deixou a desejar em diversos pontos, sobretudo na carência de uma estrutura melhor para o público que se deslocou até Deodoro. 

"Não tem uma lixeira. Descemos do ônibus, você não via uma pessoa instruindo. Foram quase 3 km andando debaixo do sol até chegar aqui no circuito. No local do estacionamento não tem placa nenhuma. O único banheiro que tem é lá na entrada, há quilômetros. Cinco anos pra fazer isso, desde que o Comitê se instalou no Rio, durante cinco anos não conseguiram fazer. É uma desorganização", afirmou. 

Parte técnica, do circuito, foi bastante elogiada / Foto: Esporte Alternativo

Julio, que trabalho com a operação de algumas lojas de produtos licenciados durante a Copa do Mundo, acha difícil que o cenário consiga ser revertido em menos de um ano, tempo que falta até as Olimpíadas. 
 

"Tenho as piores impressões que poderia ter. Não tem como mudar até 2016. O que vai acontecer é deixar tudo pra última hora, fazer aditivos em contrato, superfaturar e acontecer. Aí o povo vai ver e vai esquecer tudo o que aconteceu. O evento vai passar, o país vai continuar e aí, o que que foi feito, qual o legado?", questiona. 

Transporte é criticado - Ele e a esposa esperaram mais de 30 minutos até que tivesse um veículo que pudesse transporta-la até a entrada principal, distante alguns quilômetros do circuito de cross-country. O transporte, segundo voluntários, só estava aberto para pessoas com mobilidade reduzida, como grávidas, deficientes e portadores de crianças de colo. 

Em dado momento, porém, espectadores reclamavam que um militar de patente havia sido transportado sozinho no veículo para as pessoas com necessidades especiais. "O general tem mobilidade reduzida?", perguntou Julio. Um voluntário se justificou dizendo que a área era militar e que, por isso, ele teria prioridade no transporte. 

Não só o hipismo, como todas as outras modalidades do complexo de Deodoro ocorrerão dentro ou próximas da área da Vila Militar, um bairro planejado para abrigar os estabelecimentos militares da cidade. O bairro, hoje, tem o maior aquartelamento militar do País, com dezenas de milhares de homens. 

Os números se refletem na longa caminhada até a entrada do evento, com dezenas de militares armados e até um tanque de guerra, estacionado no meio da via que dá acesso ao Centro Equestre, e que para motoristas em direção à entrada do evento. 

Evento-teste do hipismo neste sábado, em Deodoro / Foto: Esporte Alternativo

Sem lixeiras - Rosicleide da Cruz Santos pontuou a necessidade de haver lixeiras próximas ao circuito de cross-country. “A gente tem que ficar com o lixo durante todo o evento na mão para não sujar o chão", destacou, enquanto cuidava do filho pequeno. 
 

Sobre o filho, aliás, Rosicleide reclamou da falta de uma área em que pudesse trocar o filho. "Pelo menos um banheiro próximo, caso a gente precise trocar uma fralda, por exemplo. Em se tratando de criança isso é muito comum", afirmou. 

Rio 2016 promete ouvir críticas e melhorar para Olimpíadas - Gustavo Nascimento, diretor de Instalaçoes do Comitê Rio 2016, conversou com o Esporte Alternativo após o evento deste sábado e foi questionado a respeito das críticas dos espectadores a respeito do circuito do evento. Para ele, há muito o que melhorar, mas é preciso entender que a característica do cross-country é ser "pitoresca". 

"A gente está aqui pra testar a área de competição primordialmente, o sistema de resultados. Até agora, sucesso total. O retorno que estamos recebendo da FEI é muito positivo, muito trabalho pra fazer, muito ajuste. Temos aqui dezenas de cavalos e teremos centenas durante os Jogos Olímpicos. Mas os espectadores ficaram satisfeitos, é uma prova de cross country, muito pitoresca, pelo tipo de obstáculo, impressiona para quem não está acostumado a acompanhar o esporte", disse. 

Quando perguntado a respeito da falta de estrutura para o público, no entanto, o diretor amenizou os elogios e assumiu que é preciso melhorar. "É óbvio que quando a gente tem 20 mil pessoas nesse percurso o nível de serviço que nós vamos prover é totalmente diferente [esse é o número esperado nas Olimpíadas]. Vamos aumentar o número de banheiros, escutar o feedback do pessoal. Colocar mais água, mais ponto de alimentação, as lixeiras, que foram os pontos de críticas", lembrou. 

Percurso até circuito de cross-country foi alvo de reclamações pela distância / Foto: Esporte Alternativo

Percurso modificado - O circuito da prova, para os Jogos Olímpicos, será acrescido de aproximadamente 800m, com novos e mais difíceis obstáculos. Segundo Gustavo, é uma solicitação da FEI que o evento-teste tenha nível de dificuldade entre baixo e médio. 
 

"O circuito é totalmente diferente. Alguns obstáculos são aproveitados. Não pode ser o mesmo. Para o CCE eles têm quatro níveis de complexidade (de 1 a 4 estrelas), sendo os mais difíceis apenas em cinco campeonatos mundo afora. O de hoje é mais curto, com altura de salto diferente. O percurso é inédito para o cavalo, ele nunca viu, só passa uma vez. Nos Jogos Olímpicos ele vai ser completamente diferente e serão 6,5 km", conclui.

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