Ricardo Trade: "A governança é fundamental"
Ricardo Trade: "A governança é fundamental"
Uma vida dedicada ao esporte. Assim pode ser resumida a trajetória profissional de Ricardo Avelino Trade, mais conhecido como Baka. Com passagens por diferentes modalidades, como futebol, vôlei e handebol, o CEO da Confederação Brasileira de Vôlei (CBV) passou a integrar recentemente o Conselho de Administração da Confederação Brasileira de Handebol (CBHb), esporte que aprendeu a admirar desde jovem, como atleta, e mais tarde como diretor e dirigente.
Na entrevista a seguir, Baka fala um pouco sobre o novo desafio, sobre a importância da governança corporativa para as confederações e sobre o trabalho em conjunto, tão fundamental para o sucesso das organizações.
CBHb - O que te fez aceitar o convite para fazer parte do Conselho de Administração da CBHb?
O meu passado no handebol, como forma de poder contribuir com essa modalidade que amo e que me deu as primeiras chances no esporte, além da amizade com o presidente Manoel Luiz Oliveira, que foi meu técnico na Seleção Brasileira para o Pan-Americano do México, em 1980.
CBHb - Qual o papel da governança para o êxito da gestão esportiva? Como ela deve ser colocada em prática dentro das confederações?
A governança é fundamental. Sem ela, as instituições esportivas não podem sobreviver. Criar e operacionalizar critérios rígidos de governança, transparência e conformidade é o que dá aos patrocinadores - sejam eles públicos ou privados, a certeza de que estão investindo certo os seus recursos. O projeto de governança da CBHb elaborado pelo Guilherme Raso, então vice-presidente da entidade, com o total apoio do presidente Manoel Luiz Oliveira, é um dos mais modernos do Brasil e, poderia dizer, do mundo. Isso refletirá na manutenção dos patrocinadores que a CBHb tem e na captação de novos.
CBHb - A implantação da governança corporativa é um caminho para as confederações recuperarem a confiabilidade perante a sociedade?
Exatamente. Criar e executar políticas e procedimentos duros de conformidade e governança vão cada vez mais trazer confiabilidade a todos os stakeholders do handebol brasileiro, dando credibilidade e tranquilidade a todos.
CBHb - As confederações que já adotam esse modelo, como é o caso da CBHb e da CBV, saem na frente das demais? Em quais aspectos?
Sim. Existem outras que também estão em estágio avançado. Poderia citar aqui a Confederação de Rugby, de Desportos na Neve, do Judô, entre outras, que também já aplicam mecanismos de governança muito modernos e que já trazem resultados. Não há no mundo atual o porquê não falarmos em sobrevivência do esporte x governança.
CBHb - O esporte tem como característica o trabalho em conjunto, já que ninguém conquista nada sozinho. Como usar essa característica do universo esportivo no trabalho da governança corporativa?
É de extrema importância e o esporte nos mostra isso. O erro de um ou o acerto de um, compromete ou ajuda nos resultados da equipe. Podemos transferir esse conceito para o meio corporativo, e na governança é a mesma coisa. Unir forças de todos os stakeholders do handebol brasileiro é o que dará resultado. Essa é a proposta. Diversos comitês que auxiliam a organização, o Conselho Diretor autônomo com ideias modernas e revolucionárias, a participação cada vez maior das nossas federações estaduais, atletas, clubes, árbitros, entre outros, é o que nos fará chegar a um resultado cada vez melhor para o handebol brasileiro. Temos que atuar como um time e eu, mesmo no dia a dia, dividindo com o meu presidente da CBV, o Toroca, a direção do voleibol brasileiro, entendo e tenho orgulho de participar aqui no handebol.
CBHb - Qual a importância dos Conselhos contarem com conselheiros vindos de diferentes áreas?
Eles trazem a experiência não só esportiva, mas de ambientes corporativos para aplicar na organização. Isso é fundamental. Além disso, também os contatos que esses novos participantes da gestão podem trazer para auxiliar o crescimento do esporte.
CBHb - Você já teve a oportunidade de transitar por diferentes setores e modalidades esportivas, como vôlei, futsal e futebol. O que sua vasta experiência pode contribuir, neste momento, para o handebol brasileiro?
Na verdade, essa experiência traz modelos e referências que podemos usar em outros esportes. Os acertos e os erros podem ser caminhos encurtados já aprendidos que podemos ajudar a implementar no handebol. Afinal, entre atleta de handebol, de 1971 até hoje, como gestor, já se vão mais de 45 anos dedicados ao esporte. Acredito que essa experiência possa ajudar.
CBHb - Para você, qual a importância de compartilhar informações e trocar experiências entre profissionais de diferentes modalidades? O que você destaca dessa troca?
Não nos encararmos como adversários. Há espaço para o crescimento de todos os esportes. Podemos ter lutas em comum, por exemplo, a volta da obrigatoriedade da Educação Física nas escolas, o que poderia beneficiar a todos os esportes, pois no modelo brasileiro, as escolas são fundamentais para o desenvolvimento dos esportes. Além disso, as experiências diversas, nos diferentes estágios em que os esportes estão, podem encurtar os caminhos para alguns.
CBHb - Você foi uma das peças-chave na organização da Copa do Mundo do Brasil. O que essa vivência no universo tão grandioso do futebol pode trazer para o esporte olímpico?
Costumo dizer que o futebol não é um esporte - é muito mais que isso - é uma paixão nacional. Acredito que possamos tentar no futuro fazer outros esportes se tornarem também esportes de referência para a população brasileira. O handebol tem um apelo excelente para isso - fácil de jogar, fácil de entender, muitos gols...
CBHb - Atualmente, por trás da tela de um computador ou de um celular, muitas pessoas têm abordado assuntos de forma leviana, quando, em algumas ocasiões, se engajam em discussões sem saber o que realmente está acontecendo. No caso da governança corporativa, o que as confederações podem fazer para deixar os procedimentos ainda mais claros para a sociedade em geral, inclusive para um leigo no assunto?
É divulgar, é ter transparência. Todas as ações devem ser divulgadas no site da entidade, sejam as decisões do Conselho, as políticas, as compras, o estatuto, as atas de reuniões, os orçamentos, os resultados financeiros. Fazer com que a sociedade possa ter fácil acesso às informações da gestão, com transparência. Além disso, que os diversos stakeholders possam participar, dar opiniões e fazer parte das decisões da gestão. É isso que esse modelo novo de governança vai trazer para o esporte brasileiro.
CBHb - O que as instituições esportivas podem fazer para se protegerem de boatos e informações falsas propagadas nas redes sociais?
Hoje o mundo mudou. É tudo muito rápido e boatos ou informações distorcidas, ou até mesmo corretas, mas incompletas, podem gerar um prejuízo enorme a qualquer corporação, não somente as instituições esportivas. Estar pronto a reagir rápido com transparência, diálogo e comunicação ampla com todos os setores do esporte são formas de amenizar estragos trazidos por informações errôneas nas mídias sociais. Esse é um desafio. É um mundo onde muitas pessoas dão sua opinião sem saber o porquê ou os detalhes das questões. Comunicar bem e constantemente é uma das soluções.
CBHb - Para finalizar, você pode traçar um paralelo da sua época de jogador de handebol até o momento que a modalidade vive atualmente?
Totalmente diferente. Éramos pioneiros. No interior de Minas Gerais o handebol nem era conhecido. Nosso técnico organizava jogos no interior de nosso estado, onde íamos um dia antes e pintávamos a marcação do handebol nas quadras, pois não existia, e jogávamos equipe A contra equipe B. Só contando esse episódio já dá para ver a diferença. Atualmente, as condições de treinamento, o cientificismo, o intercâmbio com outros países, as competições fortes nacionais são muito melhores. Portanto, melhores atletas e melhores instituições.
Um breve currículo - Atualmente CEO da Confederação Brasileira de Voleibol (CBV), Baka foi goleiro da Seleção Brasileira de Handebol nos anos 70, durante sete anos. Graduado em Educação Física e em Administração de Empresas, trabalhou durante muitos anos no voleibol brasileiro como preparador físico e supervisor de equipes. Na Seleção Feminina de Vôlei, atuou em um Campeonato Mundial e em um Pan-Americano. Já pela Seleção Masculina, nos Jogos Olímpicos de Seul/1988. Na empresa de eventos Koch Tavares, foi diretor técnico e realizou diversos eventos de futebol de praia, vôlei de praia e futsal. Depois abriu a própria empresa, quando foi responsável pelo marketing e operação da Liga Futsal e da Seleção Brasileira de Futsal durante quatro anos. Nesse período, foi diretor de marketing da CBHb (de 1996 a 2000) e vice-presidente (de 2001 a 2004). Após tanta experiência no universo esportivo, foi diretor de operações dos Jogos Pan-Americanos do Rio de Janeiro/2007, diretor de serviços dos Jogos Olímpicos do Comitê de Candidatura da Rio 2016 (de 2008 a 2010), diretor de operações e CEO do Comitê Organizador da Copa do Mundo de Futebol (de 2010 a 2014).
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