Conheça o refugiado que “morreu” e virou porta-bandeira dos EUA

Lopez Lomong / Foto: Andy Lyons / Getty Images

Rio de Janeiro – “Eu me tornei adulto aos seis anos de idade”. A frase, dita por Lopez Lomong à CNN, é tão marcante quanto verdadeira. Nessa idade, o atleta foi seqüestrado por milícias em Kimotongo, no Sudão do Sul, e viveu dias sangrentos em meio à guerra civil que tomou conta da região e que acabou por dividir em dois a antiga nação do Sudão.
 
 “Aos seis anos, eu via crianças morrendo todos os dias na minha frente”, continua. A realidade de Lomong começou a mudar quando ele foi incluído, ainda aos seis anos, num plano de fuga de outros três adolescentes. Rastejou por buracos, escorregou em savanas e correu muito durante três dias e três noites até chegar ao Quênia.
 
Após tempos sem notícia do pequeno Lomong, sua família o deu como morto; um velório e um enterro simbólico selaram o fim de sua vida perante seu vilarejo todo.
 
Ao chegar ao campo de refugiados no Quênia, próximo a Nairobi, teve seu primeiro contato com os Jogos Olímpicos, e pela TV. “Na África, não existe o hábito de mostrar emoção chorando, mas Michael Johnson estava chorando no pódio com aquela medalha de ouro. Aquilo me impressionou”, conta, em referência ao quarto ouro olímpico de Johnson, nos 400m.
 
No ano seguinte, Lomong foi escolhido dentre as 3.500 crianças do campo em que estava para integrar um programa da Agência da ONU para Refugiados em parceria com o governo dos EUA. Chegando lá, o pequeno sudanês ficou em Syracuse, no estado de Nova York, foi adotado por uma família, junto com outros cinco africanos, mudou seu nome (de Lopepe para Lopez, como já era chamado) e a data de aniversário.
 
A partir daí começou a se dedicar ao atletismo e aos estudos. Com o corpo esguio desde sempre e muita resistência já mostrada durante a fuga ainda criança, Lomong destacou-se logo de cara e conseguiu a classificação para os Jogos de Pequim, em 2008, nos 1.500m rasos.
 
O mais inimaginável viria depois: pela trajetória traumática e vitoriosa do africano até então, Lomong foi escolhido para ser o porta bandeira da grandiosa delegação americana durante a cerimônia de abertura das Olimpíadas, no emblemático estádio Ninho do Pássaro.
 
Nas pistas, mesmo sendo desclassificado nas semifinais dos 1.500m em Pequim 2008 e tendo ficado em 10º nos 5.000m em Londres 2012, Lomong prefere lembrar do dia histórico na China. “Podiam ter escolhido Phelps ou LeBron'', relembra.
 
A ressurreição – Como tinha sido dado como morto ritualmente no povoado em que vivia no Sudão do Sul, o atleta precisou passar por um novo ritual, agora de ressurreição. Surgiu na casa dos pais já adulto, como atleta de alto rendimento dos EUA. Hoje, seus pais vivem no Quênia e Lomong espera poder levar seus irmãos menores junto com ele para as terras americanas.
 
 “Quero agradecer ao povo dos Estados Unidos por abrir os braços para um refugiado. Por isso somos um grande país, uma nação de todas as pessoas”, agradece Lomong.
 
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