Caio Bonfim, da marcha atlética, e Fabiano Peçanha, dos 800 metros, se preparam com a ajuda dos pais
Quarta, 25 Julho 2012 20:58
Londres- Caio Bonfim desempenha a atividade mais solitária da equipe de atletismo do Brasil. Único a obter o índice olímpico para a marcha atlética, na prova de 20 km, o brasiliense não divide estratégias nem compete com nenhum outro colega – uma realidade que o distancia de seus pares das provas de velocidade ou salto. Nos treinos, geralmente é o último a sair, depois de dar voltas e mais voltas, calado, em torno da pista de atletismo de Crystal Palace, centro de treinamento do Brasil. A recompensa vem à saída, quando recebe o abraço e os conselhos do pai e treinador João Sena Bonfim, que está em Londres com a seleção.
Ex-técnico de Carmen de Oliveira, a primeira marchadora a competir pelo Brasil em Jogos Olímpicos, em Barcelona 92, João não esconde a felicidade com a façanha que ajudou a realizar. Caio começou a treinar marcha há cinco anos apenas; em 2011, passou a competir na categoria adulta; por último, o índice olímpico veio há um mês, na última tentativa, durante a disputa do Troféu Brasil. “A classificação do Caio para Londres foi uma das coisas mais bonitas que já me aconteceu”, lembra João.
Caio afirma que a presença do pai ajuda a quebrar qualquer solidão. “Por um lado, sinto falta de um rival, que torne os meus treinos mais competitivos, que me ajude a superar os meus limites”, afirmou o marchador. “Por outro, a minha concentração é muito grande, não há nenhuma distração”.
Ex-jogador de futebol das categorias de base do Brasiliense, Caio admite que a troca pela marcha atlética deveu-se à influência familiar – a mãe, Gianette Sena, também foi marchadora e chegou a ganhar sete vezes a prova no Troféu Brasil. “Nunca tive aulas para aprender a marchar. Via a minha mãe e imitar o movimento já era algo natural. Há cinco anos, meu pai pediu para que fizesse um teste e deu tudo certo”, disse.
Para os primeiros Jogos Olímpicos, Caio pretende baixar a sua marca e conquistar a melhor posição de um brasileiro na modalidade – até hoje, a 13ª colocação foi o melhor resultado. Para isso, sonha com temperaturas amenas, bem diferentes da quarta-feira ensolarada e abafada em Londres neste dia 25 de julho. “Seria ótimo competir em uma temperatura em torno de 18 graus. Ajudaria a fazer um tempo melhor”, afirma.
Caio, porém, não é o único da equipe de atletismo a ter apoio familiar em tempo integral durante os Jogos Olímpicos. O meio-fundista Fabiano Peçanha, corredor dos 800m, é outro que aguarda a chegada do pai e treinador Jorge Peçanha, prevista para o dia 30. Depois de tentar a sorte no salto em distância e nas provas de velocidade na adolescência, Fabiano optou pelas provas de meio-fundo dos 800m e 1500m quando tinha 15 anos, com a concordância do pai.
A relação familiar ajuda a estabelecer treinamentos quase intuitivos. “Não precisamos falar muito. Por ser meu pai, ele já conhece o quanto eu me cobro e o meu nível de concentração”, lembra. “Se tem um segredo para chegar aqui, é a confiança que sempre depositamos um no outro”.
Para Londres, Fabiano sonha com a classificação para a semifinal. “Em condições normais, acho que tenho mais de 60% de chances de conquistar um lugar ali; para a final, é preciso ainda dar um salto grande e que o dia seja fantástico”, diz, Fabiano, que combate a ansiedade com estudos sobre os adversários. “A partir da definição da raia, eu planejo a minha estratégia. Espero que caia numa prova junto com corredores que gostem de forçar o ritmo desde o início. Esse é o estilo que mais me favorece”.