O sucesso do Brasil em Tóquio
Tóquio - Quando os fogos de artifício espocaram e a bandeira francesa foi hasteada em Tóquio, estavam encerrados os 32º Jogos Olímpicos da era moderna e a delegação brasileira embarcava para casa com 21 medalhas no peito. Um desempenho histórico, ainda melhor que o dos Jogos no Rio, quando os brazucas tinham mando de campo e fecharam a conta com 19.
O que explica esse sucesso? Será que o ‘gigante adormecido’ esportivo finalmente acordou? Ou teria a pandemia favorecido os verde-amarelos de alguma forma?
Uma coisa é certa: não foi por conta de um maior investimento no esporte, algo que sempre se conclama no Brasil ao final de cada ciclo olímpico. Em relação a 2016, as verbas minguaram, tanto públicas quanto privadas. Culpe-se a constante crise econômica, o coração empedernido de empresários ou apenas o novo vírus. O fato é que as fontes secaram, mas, ainda assim, deu certo.
Alguns especialistas apontam, com razão, o efeito residual do Rio. Para nossa Olimpíada, os financiamentos foram fartos e os bons trabalhos conseguiram prosseguir, mesmo com menos recursos. Um caso emblemático é o de Rebeca Andrade, ganhadora de duas medalhas na competitiva ginástica artística. O Brasil vem melhorando há décadas nessa modalidade, e já tivemos conquistas em menor escala com Daiane dos Santos, Jade Barbosa e outras pioneiras. O sucesso de Rebeca não pode ser dissociado de quem veio antes. A ginastica masculina também brilhou, mesmo sem levar medalhas.
Outros esportes têm muita tradição no país e, mesmo sem tanto apoio, conseguem se manter competitivos. Em Tóquio vimos o boxe ter um bom desempenho – o nocaute de Herbert Conceição, no último round, foi apoteótico. As três medalhas que o boxe trouxe não foram acaso, mas sim muito treino, mesmo com subfinanciamento.
Também se ouviu que a pandemia baixou o nível da competição, uma vez que o isolamento social comprometeu os treinamentos. Certamente não foi fácil para ninguém fazer um bom ciclo olímpico com uma quarentena no meio do caminho. Vários programas de treinamento em casa surgiram, alguns com bastante sucesso. Mas para atletas de alto desempenho, poderiam não ser suficientes. Contudo, antes de desmerecer os vencedores, basta ver a quantidade de recordes batidos – foram muitos. Na canoagem, eles caíram como siriri em noite quente de setembro. Em última análise, a pandemia foi para todos. O que mudou foi como cada um se adaptou.
Invejosos de plantão podem afirmar que o Brasil foi favorecido pelas novas modalidades desta edição dos Jogos. Skate e surfe, de fato, deram quatro medalhas ao país (deveriam ser cinco, já que Gabriel Medina claramente venceu a semifinal contra Igarashi). Tire-se essas medalhas e o desempenho ficaria aquém do recorde. Porém, ser favorito não garante nada. Na escalada, outro novo esporte, o favorito Adam Ondra terminou em um melancólico sexto lugar, enquanto um menino espanhol de 17 anos fazia história.
A verdade é que ninguém tem medalha garantida de véspera. O nosso fortíssimo vôlei de praia, por exemplo, ficou de mãos abanando. E o judô, outra tradicional fonte de ouro, teve que se contentar com dois bronzes. No entanto, pipocaram algumas surpresas, como o ouro na maratona aquática, e outros bateram na trave, como a marcha olímpica feminina e o arremesso de peso masculino. Esses “quase-medalhados” também merecem todas as honras – e um bom patrocínio para o próximo ciclo. Assim como merecem nosso respeito as meninas do futebol, que se não conseguiram disputar o pódio, foi apenas por contingência, não por falta de esforço. Em contraste a elas, temos o time masculino que, cá para nós, poderia ter se comportado melhor no lugar mais alto do pódio. Saber ganhar é tão importante quanto saber perder.
Ao final, o sucesso do time Brasil em Tóquio pode ser explicado como uma conjunção de fatores que foram bem aproveitados por quem teve a chance. Certamente mais apoio, mais patrocínio e mais profissionalismo podem ajudar o Brasil a chegar a trinta medalhas em Paris, por que não? O sonho olímpico está aí para ser sonhado – e vivido – pelos próximo três anos.