Fabiana Diniz: "É uma honra ser capitã desse grupo"

Dara é capitã da Seleção há seis anos / Foto: Wander Roberto/Photo&Grafia

Fabiana Diniz: "É uma honra ser capitã desse grupo"

Capitã da Seleção Feminina de Handebol há seis anos, Fabiana Diniz, a Dara, é uma referência no esporte, não só pelos inúmeros títulos pela equipe e pelos clubes por onde passou, mas também pela dedicação, disciplina e carisma. A paulista de Guaratinguetá se prepara para a disputa da quarta Olimpíada de sua carreira e, no Rio de Janeiro (RJ), pretende realizar o sonho de conquistar uma medalha para o País.

Depois da maior competição do Planeta, pretende deixar as quadras, pelo menos do lado de dentro, porque fora delas, apesar de vários planos pessoais, Dara não pensa em abandonar a modalidade que tanto ama e sim continuar contribuindo de alguma forma para o desenvolvimento do handebol no Brasil. 
 
Na entrevista a seguir, ela conta um pouco sobre tudo isso, sobre o momento atual da Seleção que foi campeã mundial em 2013, sobre a honra e ao mesmo tempo a pressão de disputar os Jogos Olímpicos em casa e sobre os planos para o futuro. 
 
Agora já estamos em 2016, cada dia mais próximos dos Jogos, como está o coração e as emoções?
 
O coração está a mil. Contando os dias. É o maior evento esportivo do Planeta. Meu Deus! Fico sem palavras. 
 
Você ainda não se reuniu com a Seleção depois do Mundial da Dinamarca. Como acredita que será esta primeira fase para a equipe completa? 
 
Motivação pura. Acredito que será uma fase dura e muito focada. Temos pouco tempo para acertar muitas coisas importantes. Vamos aproveitar cada dia da fase para dar um passo rumo ao nosso objetivo. Jogaremos um torneio forte, visando estar bem no momento certo. 
 
A Seleção Feminina está em um momento totalmente diferente da que vivia em 2012 em Londres, sem o favoritismo que tem hoje. Como você analisa isso? 
 
Tirar o favoritismo jogando em casa, depois de ganhar um título mundial nesse último ciclo é muito difícil. Mas, assim como nesse último Mundial, acho que no handebol não podemos nomear um favorito. Talvez a Noruega pelo histórico que tem. Temos que deixar esse favoritismo que nos está sendo dado do lado de fora da quadra, da Vila, de tudo. Vejo como uma armadilha. Temos que focar jogo a jogo, passo a passo no objetivo que temos. 
 
A pressão de jogar em casa a maior competição do Planeta te assusta?
 
Não, não me assusta. Ao contrário, me motiva muito. Como já falei, é um privilégio ter um país a nosso favor. É uma honra. É muita responsabilidade sim, mas é algo que eu encaro sem medos, sem fantasmas. Quero apenas enfrentar cada jogo como se fosse o último, sabendo que temos uma nação nos apoiando. 
 
Você como capitã e uma das mais experientes terá um papel fundamental nisso. O que pretende passar para as atletas mais novas que nunca estiveram em um evento tão grandioso como esse?
 
Principalmente não perder o foco. Estaremos com os melhores atletas do Planeta em suas respectivas modalidades. Não pode existir deslumbramentos. Afinal, também estamos lá. Tudo é um mundo à parte em uma Olimpíada. Qualquer desvio de foco pode custar muito caro. 
 
Você está na Seleção há muitos anos. Quais as mudanças que você destaca desde que entrou para a equipe até o momento atual, não somente em termos de estrutura, mas também na forma de trabalhar das atletas e comissão técnica? 
 
Em termos de estrutura, sem dúvida, fomos de menos a mais. Houve uma melhora imensa, juntamente com o crescimento do handebol. A mentalidade, a competitividade e o profissionalismo também tiveram um grande salto. O amadurecimento da equipe de um modo geral, para mim, é um ponto forte. Destacaria a boa conexão das jogadoras com o técnico. 
 
Como é ser capitã de uma Seleção Nacional? Ainda mais no seu caso, por seis anos. Ser uma referência dentro da equipe?
 
Sempre digo que é uma honra ser capitã desse grupo. Me sinto muito feliz. Fácil não é. Representar um grupo tem o lado duro, mas consigo administrar bem. Gosto e tento dar o meu melhor sempre. 
 
Você vê alguém que possa assumir esse papel quando você deixar o grupo?
 
Sim, vejo, mas prefiro não falar (risos). Acredito que o técnico tem esse papel de nomear alguém. Não quero criar nenhuma polêmica (risos).
 
Você tem uma relação de confiança muito grande com o técnico Morten Soubak fora e dentro de quadra. O que isso significa para o trabalho?
 
O Morten para mim é um fenômeno. Tenho um respeito imenso por ele, como pessoa e como profissional. Não é fácil ser sua capitã, mas também não é difícil. Temos nossos momentos de discussões, mas sempre em prol da melhora e do crescimento. Tudo pelo grupo. Ele é mais um de nós. Realmente, ele é 'brasileiro' e isso para nós atletas faz muita diferença. Alguém que vista a nossa camisa, nossas cores e, principalmente, que acredite que somos capazes. 
 
Você tem vários ídolos no handebol. Quais são e como você se vê no mesmo papel, como um ídolo para a geração que veio depois de você? 
 
Tenho vários mesmo. Magnus Wislander (sueco, eleito melhor jogador do século XX), Didier Dinar (ex-atleta francês, bicampeão olímpico), Jackson Richardson (ex-atleta francês, considerado um dos maiores da história) e Heide Loke (Norueguesa, eleita melhor do Mundo em 2011) são alguns deles. Gosto de muitos jogadores, cada um por algo especial. Nomeei apenas alguns como exemplos. Gostaria de ser vista como ídolo principalmente no quesito entrega, compromisso e honra em vestir a camisa do meu País. Que minha garra e superação sirvam de inspiração. 
 
Nessa temporada, você foi jogar na Alemanha. Já passou por vários países desde que iniciou a carreira. Qual a diferença entre eles no handebol? 
 
Cada país tem sua peculiaridade. De modo geral, todos vivem muito intensamente o esporte. O nível de profissionalismo é diferente, a torcida também. Na questão jogo, tanto França quanto Alemanha optam por um trabalho defensivo forte e contra-ataques, o que se pode ver nas Seleções. Espanha e Áustria não têm atualmente uma liga tão forte. A Espanha tem um handebol diferenciado, forte nos desmarques e muito habilidoso. Isso é só um resumo por onde passei. 
 
As brasileiras conquistaram um espaço importante na Europa não só pelos resultados da Seleção, mas também pela atuação nos clubes de diversos países. Como você analisa isso?
 
Acho ótimo. Somos sim o país do handebol! Esse reconhecimento é digno das atletas que temos. Temos muita 'matéria-prima' boa para oferecer ao handebol mundial. 
 
Como você vê a geração que vem depois de vocês? 
 
Vejo uma geração boa, porém, que vai precisar trabalhar muito, tanto quanto nós e outras gerações antes de mim trabalharam. O trabalho é duro e constante. Não adianta pensar que está tudo feito e agora é só desfrutar. Sempre será cada vez mais difícil. Um bicampeonato mundial será mais difícil do que foi o primeiro. Não bastará ter talento. 
 
Muitos atletas estão se preparando para encerrar a carreira após os Jogos Olímpicos, esse é um processo que é sempre muito difícil. Você acha que o fato dos Jogos serem no Brasil facilita a despedida? 
 
Mais que facilitar, acho que é algo muito bonito encerrar a carreira dentro de casa no maior espetáculo do Planeta. Eu diria que é um privilégio. 
 
Você também pretende encerrar a carreira depois dos Jogos? Isso já é algo claro na sua cabeça?
 
Sim, pretendo fechar com chave de ouro. Depois de anos fora do meu País, é uma honra terminar em casa. Tenho clara a decisão de parar. Sem dúvida, não é fácil, nem uma decisão para ser tomada do dia para a noite, mas acredito ser um momento bonito na minha carreira. Mas, agora não penso nesse fim, penso em disputar os Jogos Olímpicos, mas sei o que está por vir. 
 
Apesar do fim da carreira não ser o foco neste momento, o que pretende fazer depois que parar de jogar?
 
Meu maior sonho, depois de uma medalha olímpica, é ser mãe. Meu marido e eu temos esse plano. Não sei se logo depois de encerrar a carreira. Mas, por que não? Veremos quando chegar o momento. Na questão profissional, estou terminando a construção de uma pousada no litoral norte de Alagoas. Vou me mudar para aquele paraíso. Porém, não nego que gostaria de estar envolvida com o handebol de alguma maneira. 
 
Como você pretende continuar contribuindo com o handebol brasileiro? 
 
São anos dedicados ao esporte e seria mentira dizer que esse amor vai acabar. Nunca! Espero conseguir me envolver com alguma coisa e seguir dando minha contribuição para a modalidade.
 

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