Herói de oito irmãos, ex-pedreiro sonha com Jogos Olímpicos

Maicon Andrade / Foto: Arquivo Pessoal

Rio de Janeiro – Maicon Andrade, de 22 anos, é um dos atletas brasileiros que buscam assegurar uma vaga nos Jogos Olímpicos, no taekwondo, na categoria +87kg. Suas dificuldades, porém, vão além da falta de investimento no esporte e de patrocínio, velhos conhecidos dos esportistas aqui. Dona Vitória, mãe do atleta, precisava se esforçar muito para sustentar Maicon e seus oito irmãos.
 
Por isso, aos 18 anos, o lutador já trabalhava como assistente de pedreiro durante a semana. Aos sábados, fazia bico como garçom. O dia que sobrava, no caso o domingo, era o único em que podia se dedicar a sua verdadeira paixão: o taekwondo.
 
“A rotina era intensa. Carregava saco de cimento, virava massa, levava tijolo, descarregava caminhão, brita... Era um trabalho pesado, chegava em casa exausto. Mas era o único jeito de permanecer lutando, por isso, não podia largar o serviço. Eu levava um dinheiro para casa e outra parte comprava o que precisava do taekwondo. Era pouco, mas dava para pagar uma inscrição no campeonato, ajudou muito”, lembra.
 
Os estudos acabaram tendo que ser deixados de lado e o jovem começou a se destacar no esporte, chamando a atenção de um treinador, que o convidou para integrar uma academia de treinos em São Caetano, São Paulo. Foi aí que o mineiro de Ribeirão das Neves viu que precisava dar um passo maior.
 
“Mudar de cidade foi complicado. A minha mãe me apoiou, assim como os meus irmãos. Larguei o conforto de casa, o carinho da família, para buscar meu sonho em um lugar onde não conhecia ninguém. Os três primeiros meses foram os mais difíceis da minha vida, era período de adaptação. A saudade apertava, doía muito, só conversava com a minha mãe pelo telefone. Em nenhum momento pensei em desistir. Se eu deixei o conforto de casa para ir atrás do meu sonho, eu nunca vou desistir. Vou até o fim. O Reinaldo e o Clayton, técnicos da equipe, me falaram que seria difícil, mas que daria certo. Eu acreditei e, no sétimo mês, estava na seletiva para a seleção”, conta Maicon.
 
As dificuldades pareciam ter passado até que sua mãe, Dona Vitória, descobriu um câncer na mama. “Paguei todos os remédios, tudo o que ela precisava. Ela é a minha força, minha inspiração. Todas as minhas lutas são por ela. Antes de lutar, sempre mando mensagem, ligo para ela. É amor mesmo. Meu sonho é dar uma viagem para ela poder viajar, ficar meses fazendo o que ela quiser, conhecer o mundo inteiro, levá-la para fora do país. Ela nunca foi ao exterior e sempre sonhou em ir para Dubai. Se Deus quiser, vou dar esse presente a ela. E não vai demorar muito”, sonha o atleta.
 
Para a Rio 2016, Maicon disputa uma vaga com outros quatro taekwondistas, na primeira seletiva olímpica. “Estar na seleção era meu sonho, e venho sendo titular por dois anos consecutivos. Ao entrar, você vira o alvo. Muitos acabam se acomodando. E quando isso acontece, alguém vai querer tomar o seu lugar. Tem que estar evoluindo, competindo, tem que buscar uma coisa maior. Você precisa saber onde quer chegar. Espero representar o país nas Olimpíadas e realizar meu sonho de ser campeão olímpico”, conclui Maicon.
 
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