Frustração e volta por cima: caminho árduo de Bernardo Oliveira até estreia olímpica

Ele conquistou a vaga no individual para Londres em 2008, mas ficou fora da competição porque a vaga era do país, e outro atleta foi escolhido para representar o Brasil, adiando o seu sonho de disputar uma Olimpíada  / Foto: Roberto Castro/ME

Rio de Janeiro - Há quatro anos Bernardo Oliveira, então com 18 anos, viveu uma frustração que chegou até a abalar a sua relação com o esporte. O jovem era a revelação do tiro com arco nacional e conquistou a vaga do Brasil para os Jogos Olímpicos de Londres na prova individual.
 
Próximo de realizar o sonho de representar o país no maior evento esportivo do mundo, o sonho virou frustração. A vaga escapou entre as flechas e as provas londrinas foram disputadas por outro atleta: Daniel Xavier. Adiar por mais quatro anos o sonho olímpico parecia distante e improvável para o arqueiro. 
 
A vaga olímpica no tiro com arco pertence ao país e não, ao atleta que garante o lugar. Bernardo se classificou durante o pré-olímpico das Américas, mas nas competições seguintes ele não conseguiu manter o rendimento e ficou de fora dos Jogos. Porém, ele não sabia que a edição de Londres ainda iria renovar as esperanças olímpicas. 
 
“Fiquei muito chateado e desanimado. Foi nesse meio tempo que eu recebi o convite do Comitê Olímpico do Brasil (COB) para participar do programa Vivência Olímpica, que levou jovens promessas para conhecer os Jogos. No primeiro momento pensei em recusar. Eu queria ir para competir e não, para passear”, recordou o arqueiro.
 
Mesmo sem poder atirar com o seu arco em Londres 2012, Bernardo Oliveira – que recebe o apoio financeiro do programa Bolsa Atleta do Ministério do Esporte – experimentou quase todas as sensações de atleta olímpico na capital britânica. “Depois fiquei muito feliz em ter aceitado o convite. Quando cheguei lá, vi a Vila olímpica, os outros atletas, as coletivas de imprensa. Foi uma experiência única. Lembro-me de ter pensado: ‘daqui a quatro anos tenho que estar no Rio competindo. Vou fazer o possível e o impossível para está lá”, disse.
 
Ao contrário do que Bernardo Oliveira pensava, quatro anos passaram rápidos. Hoje, o atleta é um dos quatro atiradores da equipe nacional da seleção brasileira classificada para os Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro. Da equipe, três irão defender o país nas provas programadas para o Sambódromo carioca e um será reserva. 
 
O tiro com arco vai além de esforço psicológico e concentração. Diariamente são 400 tiros, 10km de caminhada, além de ficar mais de 2h em pé. A maior chance de medalha no tiro com arco nacional é na prova por equipe. No masculino, os maiores adversários são Coreia do Sul, Estados Unidos e Itália. A convivência e a parceria são fórmulas utilizadas pelos brasileiros para encarar o maior desafio de suas carreiras. 
 
Desde o fim de janeiro deste ano os arqueiros das seleções - quatro na masculina e quatro na feminina - moram juntos na capital fluminense. “Nós viramos uma família, mesmo. A convivência ajuda na hora da competição. Está sendo bem interessante a experiência de conviver junto o tempo inteiro. Nós dividimos o quarto, tomamos café da manhã juntos, treinamos. Estamos grudados o tempo inteiro. É um desafio a convivência o tempo inteiro, mas é muito bom para se conhecer a fundo. Isso é um diferencial durante a competição”, explicou. 
 
Confira o bate-papo com o atleta que vai estrear nos Jogos Olímpicos em casa:
 
O que é importante no tiro com arco? A visão?
 
O nosso desafio não é mirar. A visão não é tão importante. O recordista olímpico e mundial, por exemplo, não pode tirar carteira de motorista porque a miopia dele é grotesca. O tiro com arco é um esporte em que o desafio é executar o tiro e fazer a flecha chegar ao alvo. Então, mirar é a parte mais fácil. O difícil é você fazer a flechar chegar onde você está mirando. Depende da sua técnica e de muito treino.
 
Do atleta até o alvo são 70 metros. Como você enxerga o alvo?
 
A gente não enxerga 100%. Não dá para ver o anel de 10 pontos. Nós colocamos a mira no meio e fazemos o tiro. É uma questão de executar o tiro e não, de apenas mirar.
 
Você é jovem. A busca do sonho olímpico é acompanhada por muitas renúncias? 
 
É muito difícil no começo. Depois, quando você passa por isso, fica mais tranquilo. São muitos fins de semana sem poder sair, na sexta ou sábado à noite. Tem que acordar cedo no fim de semana. Demorou um tempo até as pessoas perceberem a dimensão que o esporte tem na sua vida. 
 
Demorou para perceber que o seu esporte poderia virar profissão? 
 
A minha família sempre me deu muito apoio desde o início. Eles sempre me apoiaram desde o início porque era uma coisa de que sempre gostei de fazer. Até perceber que isso iria além de uma diversão, que seria uma profissão, mesmo, demorou muito. Foi em 2013, realmente quando eu decidi que era a coisa que eu mais gosto de fazer e o que eu queria seguir, mesmo. 
 
E o Rio2016? 
 
Eu quero curtir este momento, que está sendo muito bom, e vamos tentar fazer o melhor. Queremos chegar não somente para participar, mas para brigar por pódio por equipe. O nosso principal objetivo é ganhar uma medalha. Isso vai representar muito para o tiro com arco do Brasil.
 
O Brasil tem realmente chance de medalhas?
 
Por equipes, o que realmente ninguém quer pegar na primeira fase é a Coreia. Porque realmente atirar contra eles é muito difícil. Mas, tirando eles, na hora da competição é jogo de ninguém. Isso dependerá muito de como a gente vai se classificar. O que é difícil assimilar dentro de você é que não existe grande mistério. O segredo é treinar muito.
 

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