Atletas e dirigentes aprovam testes do tiro com arco

Disputa masculina por equipes no Desafio Internacional de Tiro com Arco/ Foto: André Motta/Heusi Action/brasil2016.gov.br

Rio de Janeiro - Narrando as pontuações dos atletas a cada flechada, o locutor é uma figura essencial nas competições de tiro com arco.
 

Seus gritos animados de "nove" e, sobretudo, "dez", fazem lembrar a tarde de apurações das notas das escolas de samba após o carnaval. Na última terça-feira (22.09), último dia do evento-teste da modalidade realizado no Sambódromo, arqueiros, representantes da federação internacional (World Archery) e do Comitê Organizador Rio 2016 fizeram uma boa avaliação da competição. Para que a disputa ganhe a nota dez no ano que vem, ajustes serão feitos, e apenas um ponto permanece para discussão entre os organizadores: os ruídos externos, sobretudo de buzinas de carros e caminhões que trafegam nas ruas e avenidas que circundam o local.

"A avaliação é positiva, com um potencial fantástico para o ano que vem. Estamos tratando a questão de evitar os ruídos externos. Falamos com o Comitê Organizador, e acho que vamos encontrar uma boa solução", disse Tom Dielen, secretário-geral da World Archery, reforçando o ponto de atenção destacado por ele no domingo (20.09). 
 
Os atletas não relataram problemas com o barulho das ruas. Agberto Guimarães, diretor executivo de Esportes do Comitê Rio 2016, reforçou que alterações no trânsito do entorno do Sambódromo são a última opção e que uma saída pode ser o aumento de barreiras acústicas, já instaladas para o Desafio Internacional de Tiro com Arco. Para o dirigente, os testes ao longo dos oito dias de competições foram realizados com sucesso.
 
"A primeira coisa que levamos em conta para julgar se estamos acertando ou não é o feedback dos atletas e da federação internacional. Os dois estão satisfeitos. A federação internacional está satisfeita sobretudo com a equipe que está trabalhando. As equipes de gerência de instalação e de competição estão bem integradas. O feedback dos atletas também é positivo em relação à organização", disse Guimarães, acrescentando que os relatórios produzidos pela World Archery vão guiar os ajustes necessários para 2016.
 
Algumas mudanças já foram adiantadas pela federação, como a diminuição da altura da plataforma de um metro de onde os atletas atiram e a alteração na estrutura do pódio.
 
Além da área de competição, estavam entre os aspectos testados a tecnologia de resultados, a ação dos voluntários e a apresentação esportiva. "A tecnologia funcionou muito bem.
 
Testamos alguns elementos de apresentação do esporte, principalmente os anunciadores, que são importantes porque educam e informam o público de tudo o que está acontecendo no jogo.
 
Os voluntários surpreendem a gente de forma positiva. Eles têm demonstrado uma capacidade de trabalho muito boa", disse Agberto, em referência aos 130 voluntários envolvidos no evento-teste.
 
Visão dos atletas - Os arqueiros também avaliaram positivamente a competição e a instalação. A necessidade de ajustes na plataforma e as dificuldades com o vento foram alguns dos pontos relatados, assim como a satisfação em competir em um dos locais mais icônicos do Rio de Janeiro.
 
"Gostei muito. O único detalhe é a plataforma no campo de classificação, que é alta, mas acho que mudará para o ano que vem. No resto, a organização está bastante boa", disse o espanhol Juan Rodríguez. "O vento é estranho. Em alguns momentos, parece que sopra forte, mas, pelo menos para mim, não tive que compensá-lo. Em outros momentos, uma rajadinha afetava. Preciso observar mais para o ano que vem", acrescentou.
 
O australiano Taylor Worth disse que a plataforma é uma solução interessante e inédita para ele– a estrutura foi montada porque o chão do sambódromo apresenta ondulações e desgastes. Apenas a altura, segundo o arqueiro, precisa ser menor. A outra sugestão dele é colocar mais bandeiras ao redor do sambódromo. "Talvez um pouco mais de indicações para o vento, talvez mais bandeiras, mas fora isso tudo pareceu bom. Somos sortudos por usar esta instalação para os Jogos Olímpicos", disse.
 
Para o sul-coreano Ku Bon Chan, o vento se mostrou traiçoeiro, já que a direção na linha de tiro e nos alvos era diferente em alguns momentos. O Sambódromo foi destacado pelo arqueiro como uma atração à parte. "Eu nunca havia atirado em um ambiente como o Sambódromo. Esta foi uma ótima oportunidade para mim e espero poder brilhar no próximo ano", projetou.
 
O secretário-geral da World Archery informou que mais bandeiras e barreiras serão colocadas no Sambódromo para ajudar na indicação de vento. Ele ponderou que o tema do vento também é "questão de experiência, feeling e coordenação entre os membros das equipes", e que treinar no vento e atirar forte também são importantes.
 
Acessibilidade - Outro aspecto avaliado no Desafio Internacional foi a acessibilidade, com a presença de atletas cadeirantes. A arqueira brasileira Anne Pacheco não encontrou problemas. "Do meu ponto de vista, foi tudo muito bom: o treino, a classificatória, os combates. Um degrau ou outro estava sem rampa, mas a gente falou no primeiro dia e foi consertado. Tem alguns detalhezinhos, como partes do chão que eles vão cobrir, detalhes no banheiro, mas em geral está muito bem organizado. As condições para o atleta disputar estão ótimas", explicou.
 
Treinos no Sambódromo - Principal nome da modalidade no país e melhor atleta brasileiro na competição, com o nono lugar, Marcus Vinicius D'Almeida elogiou a organização do evento-teste e defendeu a realização de treinos no Sambódromo para os Jogos Rio 2016. "A única coisa que eu queria era conseguir treinar aqui antes das Olimpíadas", disse.
 
A chefe de equipe brasileira, Joice Simões, explicou que a ideia existe há dois anos e que a solicitação para os treino no Sambódromo já foi feita. "O Comitê (Olímpico do Brasil, o COB) está dando um retorno sensacional pra gente. A Confederação Brasileira (de Tiro com Arco, a CBTArco) está empenhada. Existem vários órgãos envolvidos, o Rio 2016, a prefeitura, que precisam estar alinhados. Temos que respeitar o trabalho de cada um, sem dúvida, e tentar, dentro dessa dinâmica, otimizar uma forma de a seleção brasileira estar aqui e fazer esse preparatório que vai ser extremamente importante", explicou.
 
Segundo ela, muitos aspectos puderam ser observados no evento-teste. "Foi essencial. Conseguimos tirar muitas coisas não só estruturais. Esse design das arquibancadas enganou um pouquinho e acabou dando uma característica diferente para o vento. O clima também. Bate o sol no chão, aquilo reflete e aumenta a temperatura. No meio do caminho, a gente começou a trabalhar com os atletas uma nova hidratação. Tem também a questão emocional. Tudo isso foi rico para a gente", disse.
 
Câmeras monitoraram o comportamento dos atletas ao longo da competição e, segundo Joice, as imagens já estão sendo analisadas pela CBTarco para ajudar no trabalho com os arqueiros.
 
Marcus Vinicius se deu conta de que a potência do arco deve ser reavaliada. "Vai ser um campeonato com vento nas Olimpíadas. Lá no final, nos últimos 10m, tem um corredor de vento que faz diferença. Acho que devo aumentar um pouco a potência para ter melhor resultado. Eu sabia que um dia isso ia acontecer", disse o arqueiro de 17 anos, que treina com a mesma potência no arco há três anos.
 
O ajuste, de acordo com a comissão técnica, é possível. "Em um mês você consegue fazer o ajuste e o teste e, dentro de um período pequeno, consegue falar se isso é viável ou não e até fazer outros ajustes, se necessários", disse Joice Simões. "Para aumentar a potência do arco, você tem que deixar o corpo do atleta preparado. Precisa trabalhar o desenvolvimento físico para evitar lesão e não comprometer a parte técnica. Isso é feito de forma gradativa", acrescentou.
 
Resultados - O Desafio Internacional de Tiro com Arco terminou nesta terça com a vitória do sul-coreano Kim Woojin no individual masculino. A prata foi para o holandês Sjef Van Den Berg e o bronze, para Ku Bonchan, também da Coreia do Sul.
 
Na segunda-feira (21.09), a coreana Choi Misun foi a campeã da competição individual com a vitória sobre Tan Ya-Ting  de Taiwan. A norte-americana Mackenzie Brown ficou em terceiro.
 
No sábado (19.09), a competição feminina por equipes foi vencida pela Coreia do Sul. A Ucrânia ficou com a prata e a China, com o bronze. Chineses venceram a competição masculina no domingo (20.09), ao derrotar o Canadá. O bronze foi para  a Holanda.
 
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