Entrevistas

Carlos Galvão: "Nos EUA, em 2012, foram 236 maratonas. Aqui no Brasil, foram no máximo nove. Ainda há muito por fazer."

Carlos Galvão, proprietário da Latin Sports e um verdadeiro exemplo de Ironman / Foto: www.funfsports.com

Carlos Galvão: "Nos EUA, em 2012, foram 236 maratonas. Aqui no Brasil, foram no máximo nove. Ainda há muito por fazer."

São Paulo -  Imagina nadar 3 mil e 800 metros, pedalar por 180 quilômetros e depois disso tudo ainda ter de correr uma Maratona. Esse tipo de esporte é conhecido como Ironman e hoje em dia é praticado por milhares de pessoas em todo mundo. Agora imagina disputar essas provas no exterior, treinar todos os dias por horas em São Paulo e ser o diretor técnico e organizador do Ironman Brasil, que em 2013 terá mais de 2 mil inscritos. Continue colocando a sua imaginação pra funcionar. Pense agora em fazer tudo isso e ainda organizar 5 maratonas, 4 meia-maratonas e mais de 50 corridas de rua em todo o Brasil. Se já estiver cansado, sugerimos que nem leiam a entrevista exclusiva que o Esporte Alternativo fez  com Carlos Galvão, proprietário da Latin Sports e um verdadeiro exemplo de Ironman.

Carlos Alberto Viana Galvão tem hoje 43 anos. Durante a carreira esportiva acumulou resultados expressivos. Foi campeão Paulista de Triathlon em 1999, conquistou o 5º lugar no Sul-Americano de Triathlon em 2000 e o Vice-Campeonato Brasileiro em 2002. Além disso, o super-homem brasileiro já completou oito provas na distância Ironman e fez parte do time brasileiro no Race Across América, uma competição de ciclismo disputada nos EUA, onde cada equipe é formada por quatro integrantes. O objetivo é cruzar a terra do Tio Sam pedalando 24 horas por dia. 

O empresário recebeu o Esporte Alternativo na sede da Latin Sports. Galvão falou sobre o início da carreira, sobre a dificuldade e a disciplina de ser um Ironman e explicou como conseguiu criar a maior empresa de marketing esportivo voltada para corrida de ruas no Brasil. Ele ainda deu detalhes do Ironman Brasil 2013, falou da organização da prova e contou como faz para que tudo seja executado da forma como foi planejado.
 
Além do Ironman, Galvão falou sobre as novidades do Fila Night Race 2013 e do Circuito de Corridas de Rua Track&Field Series, que também são organizados pela Latin Sports. Durante a entrevista, o empresário contou ainda sobre as maratonas e meia-maratonas organizadas por ele e explicou como faz para que todos esses eventos sejam ecologicamente corretos, neutralizando o impacto no meio ambiente.   

 

Vale a pena Conferir a Entrevista Completa:

 

EA - Como é que começou a Latin Sports ? De onde veio essa ideia ? 
 
Galvão - A ideia da Latin surgiu em Outubro de 2000. Eu sempre fui muito ligado a esportes e tive uma infância diretamente relacionada com esportes. Comecei a jogar polo aquático com cinco anos de idade, joguei dos meus 05 aos 17 anos. Lutei Judô, joguei futebol e comecei a fazer triathlon em 1996. Eu sempre fui apaixonado pelo esporte.
 
Tudo surgiu de uma conversa com o pessoal da Track&Field, que são meus amigos. Eles já patrocinavam uma prova de triathlon em Santos e eles ouviram dizer que o pessoal que detém a marca Ironman no mundo, que é o grande sonho de consumo de qualquer praticante de triathlon, não estava satisfeito com a performance da prova aqui no Brasil. Pra você ter uma ideia, o melhor ano de Ironman Brasil organizado por outra empresa teve a participação de pouco mais de 200 atletas, de cinco países diferentes. Então nos reunimos. Naquela época eu trabalhava no mercado de capitais, na BM&F. Morei em Chicago, trabalhei na bolsa de Chicago, mas sempre com esse pensamento de esportes. 
 
Eu sempre tive um sonho de poder aliar trabalho com o meu lazer, com a minha paixão que sempre foi esporte. Então nós vislumbramos uma oportunidade, constituímos a Latin Sports e fomos para os EUA para tentar pegar essa licença, tentar pegar esse evento que era o Ironman no Brasil. Conseguimos. Foi o nosso primeiro evento, o Ironman Brasil 2001. A primeira coisa que fizemos foi migrar a prova de Porto Seguro, onde era realizada, para Florianópolis e essa sem dúvida nenhuma foi uma decisão acertada. 
 
EA - Por que Florianópolis? 
 
Galvão - Pra você ter uma ideia, o Ironman é um triathlon, na verdade um triathlon mais extenso, com as distâncias mais extensas. Desde 1996 o triathlon é um esporte olímpico.  Em 1996 foi experimental em Atlanta e debutou oficialmente em Sidney, na Austrália. O Triathlon é um esporte que já é completo por si só, porque são três modalidades, três disciplinas, num evento só.
 
Então você tem a natação, que no triathlon olímpico onde o atleta nada 1 mil e 500 metros e no Ironman ele nada 3 mil e 800 metros. Você parte sempre nessa ordem. Sai da água e pega a bike. No triahtlon olímpico você pedala 40 quilômetros e no Ironman você pedala 180 quilômetros e você finaliza com a corrida. No olímpico você corre 10 quilômetros e no Ironman você corre uma maratona inteira ou 42 mil 195 metros. Então, por si só, é um evento muito complicado. Muito difícil de organizar. 
 
Florianópolis foi escolhida porque ela nos mostrou que tinha as qualidades, que a gente enxergou que pudesse crescer o evento com uma qualidade técnica irrepreensível. Quais são essas qualidades? Você tem uma logística privilegiada, você tem uma condição topográfica privilegiada, você tem uma condição climática privilegiada, você tem a questão da estrutura e de Staffs privilegiados. Pra você ter uma ideia, nós migramos num cenário de 2001 de pouco mais de 200 atletas inscritos no Ironman Brasil, que será realizado no último domingo de Maio, para 2 mil e 200 atletas inscritos de 35 países diferentes. Hoje nós temos trabalhando no Ironman Brasil 1 mil e 500 voluntários, que a gente chama de Staffs voluntários. Como que a gente consegue esses voluntários? Lá, na Grande Florianópolis, nós temos pelo menos 11 grandes faculdades e universidades. Então, com isso, nós temos uma mão de obra super bacana, qualificada e que sem dúvida faz esse evento acontecer, coisa que em outra cidade, muito menos em Porto Seguro, você conseguiria. Eu sempre digo que contra números não existem argumentos. Então está aí. Saímos de 200 para 2 mil e 200.
 
Outro dado muito relevante em relação ao Ironman Brasil é que esse evento é o evento esportivo mais importante hoje do Estado de Santa Catarina. Ele deixa na cidade, como impacto financeiro, cerca de 15 milhões de reais. Com isso, ele já é o segundo evento mais importante depois do reveillon, não só de eventos esportivos, mas do Estado. Inclusive já passou o carnaval em termos de impacto financeiro, porque são pessoas que vão com dinheiro e que levam consigo de quatro a cinco pessoas. Não são só os 2 mil atletas. São 10 mil, 12 mil, 14 mil pessoas que estão ali, acompanhando e passando de 05 a 07 dias na cidade de Florianópolis. Então é um evento importante, que deu início a essa história, dessa jornada da Latin Sports.
 
EA - E depois do Ironman ? 
 
Galvão - Depois, a gente começou a procurar novas propriedades, novos eventos esportivos, sempre buscando qualidade e excelência na entrega.  Em 2004 nós começamos a migrar para o seguimento de corrida de rua, com o Track&Field Series. Com isso, nós bolamos uma corrida de rua diferenciada, com largada e chegada dentro de um shopping center anfitrião, com toda a comodidade e segurança para o atleta que vai participar, com estacionamento gratuito, kit diferenciado e com limite técnico de atletas por etapa. Nós da Latin, não queremos ter nesses eventos 5 mil, 6 mil, 10 mil pessoas. A gente limita em 2 mil, 2 mil e 500 pessoas. Então você oferece uma experiência super inédita na vida do corredor, na vida daquele atleta. 
 
EA - Com isso ele vai querer uma vez e vai querer correr sempre? 
 
Galvão - Você retém o cara, sem dúvida. E esse modelo nós replicamos para outras praças. Por exemplo: o Track&Field Series, que são corridas de 5 e 10Km, ele nasceu aqui em São Paulo e com 3 etapas em 2004. Em 2013 são 45 etapas, o que faz desse circuito de rua o maior do Brasil. Eu vou ser cabotino aqui e posso dizer que é o melhor e o mais diferenciado do Brasil. Esse circuito migrou de São Paulo para 21 cidades. Enfim, realmente pegou, caiu no gosto o Track&Field Series. Fora isso, a gente começou a bolar  novas propriedades. Hoje nós temos sem dúvida, um segmento aqui na Latin Sports que a gente chama de eventos de endurance. São eventos de corrida, de pedestrianismo, com longa duração. Ou seja, meia-maratona ou maratona. Nós temos hoje na casa cinco maratonas, quatro meias-maratonas, o que faz da Latin hoje a maior empresa do segmento, com o maior número desse tipo de corrida de longa distância, de endurance. Nós temos também um projeto, de Corrida e Caminhada contra o Câncer, em parceria com o Hospital de Câncer de Barretos, onde 100% das inscrições são revertidas pro Hospital de Barretos. Também temos uma série de corridas noturnas em parceria com a Fila, que é o Fila Night Race. A gente repaginou esse evento, que está previsto para acontecer em 2013 em nove capitais.  Fora isso, nós temos também, o Ironman 70.3, que é o meio Iron Man, ou seja, é exatamente o Ironman pela metade, que vai ser realizado esse ano em Brasília. Então é assim. Esse ano será um ano promissor, que nós vamos entregar 70 eventos em 23 cidades do Brasil.
 
 EA - São três escritórios da Latin Sports
 
Galvão - São três escritórios. São Paulo, Brasília e Florianópolis.  Importante frisar também que nós temos uma unidade desde 2008, aqui na Latin, que é uma unidade Promo, chamada Latin Promo. Essa unidade faz toda a ativação, toda a inteligência criativa e promocional dos nossos eventos e não só para os nossos eventos e também para o mercado. Hoje, nós atendemos a Caixa Econômica Federal, a Track&Field, a Netshoes, já fizemos jobs pontuais para a Embratur, para a Petrobras. Enfim, nós estamos com uma pegada muito bacana que complementa o trabalho da Latin Sports com a Latin Promo
 
EA - Além disso, tem a Latin Eco e a Latin Benefit ? 
 
Galvão - Nessas duas vertentes, essas duas unidades de negócios do grupo Latin são muito especiais pra nós. A Latin Eco nós criamos em 2010, com o intuito de neutralizar a emissão de carbono dos nossos eventos. Então é um investimento que nós fazemos. Todos os nossos 70 eventos desse ano vão ser carbono zero. 
 
EA - O que significa isso? 
 
Galvão - Na verdade é o que a gente fala de evento verde. Todo e qualquer evento que você realiza, seja ele promo ou esportivo, ou um seminário, você onera o meio-ambiente com a emissão de gases poluentes, de gases que poluem e que afetam e que danificam a nossa camada de ozônio. Como é que você faz para neutralizar isso? Com um processo de medição. Por exemplo: Vou fazer o Ironman Brasil.  Pra você ter uma ideia, tem pessoas que se deslocam, nós usamos caminhões, ônibus de transporte de Staffs e várias outras atividades que emitem gases poluentes. Nós fazemos uma medição, com uma empresa especializada, chega-se a um número e neutralizamos isso com o plantio de árvores ou comprando certificados de carbono. Se por um lado nós danificamos a camada de ozônio nessa série de eventos, por outro lado, através da Latin Eco, nós neutralizamos com ações de contrapartida que fazem esses eventos verdes. Hora com plantio de árvores, hora com a compra de certificados negociáveis de carbono. Vou te dar outro exemplo: Em todos os nossos eventos, nós entregamos para os nossos participantes o kit atleta. O que tem dentro desse kit? Tem a camiseta, tem o boné, tem uma meia, enfim, dependendo do evento varia um pouco essa entrega no kit. Até o ano retrasado, o material desse kit era um material plástico, que todo mundo sabe que não é um material biodegradável. De 2010 pra cá, todos os nossos eventos são realizados com o Kit reciclável, ou seja, zero de agressão ao meio ambiente. 
 
EA - São pequenas atitudes como a da Latin Eco que ajudam o Meio Ambiente? 
 
Galvão - Exato. Cada um tem que fazer a sua parte. Eu acho que é por aí. A gente tem, nessa célula a Latin Eco, esse trabalho que a gente faz 100% dentro dos nossos eventos e que pouco a gente faz, mas que é importante. A Latin Benefit é uma célula que a gente criou com o intuito de sempre buscar ações de responsabilidade social. A Latin Eco busca ações de responsabilidade sócio ambiental e a Latin Benefit busca ações de responsabilidade social. Então, ao longo de cinco anos de Latin Benefit, nós já doamos perto de 500 mil reais para ONGs, para APAEs, para o Corpo de Bombeiros, para ações juntos ao município que estamos realizando o evento. 
 
EA - Isso em dinheiro ou através de material? 
 
Galvão - Em dinheiro, através da compra de insumos e materiais para determinada ONG ou Organização. A APAE de Florianópolis já recebeu pelo menos 200 mil reais ao longo de 04 anos com o Ironman. Enfim, sempre que a gente consegue vislumbrar uma ação que gere um recurso extra, a gente pega esse recurso e aloca para alguma atividade de responsabilidade social. 
 
EA - Desses 70 eventos que hoje vocês vão realizar em 2013, o Ironman de Florianópolis é sem dúvida o mais importante? 
 
Galvão - O Ironman é o evento que eu posso dizer que dá mais trabalho. Realmente é um evento que você emprega um número muito significativo de pessoas, tanto remuneradas como não remuneradas, trabalhando. Mas hoje, cada evento tem a sua importância. A gente quer construir ao longo do tempo, eventos que consigam entregar uma experiência super diferenciada ao participante. Desde o cara que está correndo os 5Km, ao cara que está correndo 10Km, a meia-maratona, a maratona, o Meio Ironman e o Ironman. O Ironman é um evento muito importante, já que é um evento representativo não só pra Latin, mas também para o Estado de Santa Catarina. Esse é um evento que retém a atenção de vários segmentos. 
 
EA - Você é uma pessoa que costuma participar de Ironmans. Como é que é participar de um Ironman ? 
 
Galvão - É um desafio, sem dúvida nenhuma. Na verdade, sempre que a gente faz aqui na Latin uma prospecção para um investidor que queira, por exemplo, investir no Ironman a sua marca, a sua empresa,  a gente sempre faz alusão ao o que ser um Ironman. Você tem que ter para realizar um Ironman basicamente disciplina, força de vontade, comprometimento, responsabilidade e atitude. Se você transportar esses cinco pilares para o mundo corporativo, certamente eles vão estar presentes no dia a dia em qualquer empresa, em qualquer segmento. Então é assim, eu acordo todos os dias às 4h30 da manhã, pra eu estar aqui no meu escritório às 9h00, 9h30 da manhã já com o meu dever cumprido. 
 
EA - Hoje você já treinou ? 
 
Galvão - Hoje na verdade eu estou na minha entressafra, mas já teria treinado sem dúvida nenhuma.  Eu fiz o Ironman agora no começo de Dezembro. Eu fiquei um mês e meio sem fazer nada pra dar uma relaxada, uma respirada, mas a essa hora sem dúvida nenhuma eu já teria treinado. Agora eu começo o ano com alguns objetivos, sei que vou fazer mais um Ironman esse ano, só não defini qual ainda. Muito provavelmente devo participar ou nos Estados Unidos ou na Europa.
 
EA - O de Florianópolis não dá pra você participar? 
 
Galvão - O de Floripa infelizmente eu não consigo. Porque demanda muito. A gente tem uma equipe fantástica, aliás, a nossa equipe do Grupo Latin aqui é maravilhosa, eu confio em cada um deles, mas o Ironman requer muito. Eu sou o diretor da prova, o diretor técnico da prova. A semana do Ironman é muito intensa, então eu acho que eu não conseguiria. Eu tenho certeza que no meio da prova eu iria descer da bike para arrumar um cone ou uma placa que não está colocada no lugar ideal. A gente que é organizador tem esse olhar clínico e justamente por causa disso eu não posso fazer. Todos os oito Ironmans que eu participei foi fora do Brasil. O que é bom também é que eu trago lições apreendidas e coisas que podemos melhorar no que organizamos aqui no Brasil. Com isso também consigo ver o que não é bom no Ironman Brasil e até o que não é bom lá fora. Então é uma troca de experiências muito bacana. 
 
EA - Eu vi que você participou também do Race Across America
 
Galvão - Esse Race Across America foi outro desafio que eu sempre tive o sonho de fazer. Pra quem não sabe, o Race Across America é uma competição regular de bike nos Estados Unidos que os ciclistas saem da Costa Oeste dos EUA, especificamente da Califórnia e cruzam os Estados Unidos inteiro pedalando e chegam na Costa Leste,  no Estado de Maryland, em Annapolis. Então nós cruzamos doze estados, 355 cidades, pedalando 24 horas por dia, faça sol ou faça chuva.
 
EA - Como que é isso? Como assim, 24 horas por dia ? 
 
Galvão - Você não para. A nossa equipe era formada por quatro ciclistas. Era um quarteto, de quatro brasileiros chamada Spirit of Brazil. Fizemos uma equipe genuinamente brasileira, com 13 Staffs, todos brasileiros. Você tem uma estrutura de duas vans e um Motor Home que te acompanha ao longo do percurso e sempre alguém está pedalando. 
 
EA  - Dos quatro, um pelo menos tem que estar pedalando ? 
 
Galvão - Obrigatoriamente. Então você não para. Enquanto um está pedalando, os outros três estão descansando, estão se hidratando, comendo, nessa o Motor Home está cozinhando, está navegando, está checando planilhas,  está vendo a parte técnica de bike. Nós levamos nutricionista, massagista, navegador, motorista e mecânico.
 
EA - O que é mais difícil? Participar do Race Across America ou de um Ironman
 
Galvão - Essa é uma pergunta intrigante. Os dois são muito difíceis. Se você me perguntar aonde eu sofri mais, vou te falar que foi no Race Across America, porque você não dorme. No Ironman você tem 17 horas para terminar. Se você vai fazer em 8, 9, 10 ou 15 horas, pouco importa. Você sabe que vai largar, em qualquer Ironman do Mundo, às 7 horas da manhã e obrigatoriamente a prova tem que terminar à meia-noite. No Race Across America não. A prova pode durar 6, 7, 8 ou 9 dias. No nosso caso, a prova durou 6 dias e 18 horas, um recorde brasileiro nesse circuito. Nesse ano, de 2012, tinham cinco equipes brasileiras e nós da Spirit Of Brazil fomos a melhor equipe brasileira, quebramos o recorde de cinco anos desse mesmo percurso. Então é assim, um desafio, porque o quebra-a-cabeça tem que estar sempre engrenado, nenhuma peça pode sair fora do programado. 
 
EA - Se um se machucar os outros três tem que dar conta? 
 
Galvão - Exatamente. Complica toda a estratégia. Ninguém caiu, não furou um pneu, então a gente teve aí uma mistura de sorte e competência e deu tudo certo. Eu acho que a experiência no Race Across America foi sensacional pra todo mundo e foi um desafio e tanto. 
 
EA - Eu gostaria que você falasse um pouco dessas cinco Maratonas que a Latin organiza hoje. Maratona de Porto Alegre, Brasília, Salvador, Curitiba e Santa Catarina. 
 
Galvão - Na verdade, tirando São Paulo e Rio de Janeiro, que são as duas maratonas que não estão no nosso portfólio, são eventos que buscam e trazem muito a questão de desafio, de superação. São projetos, alguns deles com mais de 20 anos, como a Maratona de Porto Alegre e outros nós começamos do zero, como a Maratona da Bahia, que será a primeira Maratona da Bahia. São projetos que nós acreditamos muito. Hoje vo tem uma base muito grande de corredores de 5 e 10km e de meia Maratona, por que não pensar e oferecer para essas pessoas um aspiracional que é a Maratona?.  Para você ter uma ideia, aqui no Brasil, nós temos no máximo 7, 8, não passa de 9 maratonas por ano. Nos EUA, em 2012, foram 236 maratonas.Ainda há muito por fazer. Então, esse projeto de endurance, especificamente de maratonas, é muito especial pra gente. A gente tem um desafio danado e um desafio muito importante pela frente de consolidar e aumentar esse plantel de corredores de longa distância.  
 
EA - Está aumentando o número de corredores no Brasil? 
 
Galvão - Sem dúvida. Apesar de já ter crescido muito nos últimos 7, 8 anos, eu acho que esse é um caminho sem volta. Acho que nós estamos ainda num movimento que está longe de estar saturado. Muito pelo contrário. Acho que a gente está num ponto da curva aqui embaixo, ascendente, sem dúvidas nenhuma. 
 
EA - Fala um pouco pra gente sobre a organização do Fila Night Race 2013
 
Galvão - É um circuito, é uma pegada bacana. É realizado sempre no sábado à noite. Nesse projeto, juntamente com a Fila, a gente buscou aliar as plataformas de bem estar e entretenimento com saúde, esporte e competição numa plataforma só.  A ideia é oferecer para o participante uma experiência diferenciada, dando o direito ainda do cara sair à noite, pra balada. Além da balada que ele vai fazer correndo, ele pode ainda chegar em casa e sair pra outra balada. Esse é um projeto que a gente acredita muito que vai ser de vanguarda e que estamos muito ansiosos e muito esperançosos que entre no gosto dos participantes. 
 
EA - O que podemos adiantar da Fila Night Race 2013? Quais as novidades? 
 
Galvão - Além do Kit, que eu arrisco dizer que é o melhor Kit de corridas de rua do Brasil, nós temos aí um Kit valorado em praticamente R$250,00 reais, para o participante que vai pagar cerca de R$110,00 ou R$ 120,00 na inscrição. Isso sem contar com o limite técnico, coisa que anteriormente não existia. Nós colocamos limite técnico no Fila Night Race. Por último, a questão que teremos em todo o evento uma banda ao vivo, tocando para todos os participantes, com uma pegada muito bacana. Essa banda chama Patubatê.
 
EA - Como que é isso? Tocar ao vivo num percurso de 10km ?
 
Galvão -  É uma experiência diferenciada. A gente não está acostumado com isso. Então realmente é uma pegada super leve é uma pegada que remete ao entretenimento. Esse Patupatê é uma galera do Centro Oeste do Brasil que, eu brinco que o Stomp, muito conhecido lá fora. O Patubatê usa instrumentos oriundos de escapamentos de carros, de lata de lixo e escovão de lixo.  É fantástico !  Além disso, tem o ingrediente da cenografia, que nós vamos inserir no contexto do Fila Night Race. Eu convido todo mundo para participar porque vai ser uma experiência e tanto para essa galera que curte participar e que gosta de corridas de rua. 
 
EA - Quantas etapas serão disputadas? 
 
Galvão - Serão 10 etapas em 2013, começando agora no dia 17 de Abril em São Paulo. 
 
EA - Conta pra gente um pouco sobre a Track&Field Series ? 
 
Galvão Track&Field Series é um projeto, como eu mencionei um pouco antes, que vingou. O intuito lá trás, juntamente com a Track&Field foi criar uma experiência diferenciada para o corredor de rua, no sentido de você poder oferecer um evento com um número limitado de participantes, você poder oferecer um evento onde a pessoa pudesse parar o carro com total comodidade e segurança e com um kit diferenciado, com produtos Track&Field, que são sem dúvidas aspiracionais. A gente conseguiu aliar todos esses ingredientes num formato em parceria com Track&Field  que foi vingador. Então, de novo, contra números não há argumentos. Nós saímos de 03 provas para 45 em 2013. Expandindo o Track&Field em praças do tipo Maringá, Recife, Londrina, Uberlândia, que mal corrida de rua tem e nós já entramos nesse mercado. Desculpe o cabotinismo, mas entramos nesse mercado com o que existe de melhor em corrida de rua, em parceria com a Track&Field. Esse é um projeto que sem dúvidas nos dá muito orgulho e proporciona uma experiência ao nosso cliente, ao nosso corredor, o nosso participante, que é única. Isso retém o cara e faz com que ele volte. E por que não planejar uma viagem para correr e conhecer esses lugares?
 
EA - Ainda faltam corridas no Centro Oeste? Nós percebemos que o número de inscritos na Corrida de Reis, disputada todos os anos em Cuiabá, está crescendo muito todos os anos.
 
Galvão - Faltam corridas. São poucas. Esse é o maior indício que comprova aquilo que eu já disse. Temos muito por fazer ainda. Há muito por crescer ainda. 
 
EA -  Mais alguma coisa que você gostaria de falar ?  
 
Galvão - Eu acho que na verdade o Grupo Latin hoje está muito focado em aliar as plataformas de Promo com esporte. O mercado está aí, existe. Querendo ou não a gente tem esses próximos 04 anos onde o Brasil está em voga, principalmente nessa questão do marketing esportivo, ora com Copa do Mundo, ora com as Olimpíadas, e eu acho que nós estamos aí desenvolvendo um trabalho sério, um trabalho onde o nosso maio desafio é entregar projetos com a  máxima excelência e a máxima entrega técnica possível. Queremos proporcionar ao nosso corredor, ao nosso participante, uma experiência única e inesquecível. Essa é a missão do Grupo Latin
 
EA - Uma última pergunta. Como que é organizar um evento ? 
 
Galvão - É difícil. Não só a sua expertise. Você depende de terceiros, como por exemplo os órgãos de trânsito, aqui em São Paulo a CET, a Companhia de Engenharia de Tráfego. E assim sucessivamente em todas as praças. Você depende de Corpo de Bombeiros, você depende de liberação de vias, você depende de alvarás técnicos, você depende de medições específicas e técnicas do percurso, aferições do percurso. Quem vai lá pra correr normalmente não imagina isso. Você depende de uma hidratação perfeita. É o que eu sempre falo. Mexer com corrida de rua, com evento esportivo, infelizmente, você se depara, invariavelmente, em todos os casos, com variáveis não controláveis. Esse que é o grande desafio. Quando você está numa arena fechada, numa arena controlada, fica muito menos complicado. Quando você vai pra rua, você compartilha trânsito, são poucos os casos, na verdade quase nunca nós temos uma situação de trânsito controlado.
 
Nós temos dois eventos, também no portfolio, que é o Volkswagen Run, em parceria com a Volkswagen e o Ayrton Senna Racing Day, em parceria com o Instituto Ayrton Senna. Esses dois eventos são feitos em arenas fechadas.  O Ayrton Senna Racing Day em Interlagos e o Volkswagen Run dentro da fábrica. Diga-se de passagem, esse foi um projeto bolado em quatro mãos. Essa foi a primeira corrida de rua do mundo dentro de uma fábrica de automóveis. Nesses dois casos, pra nós, organizadores, é o melhor dos mundos. É o oásis. Mesmo assim você não deixa de ter os outros possíveis complicômetros, mas você tem no quesito de arena, uma arena cem por cento controlada. Mesmo assim é complicado. É difícil. É desafiador. Todo o evento tem a sua história, tem o seu desafio, mas isso é muito bacana. É adrenalina pura do começo ao fim. É bacana você trabalhar e controlar a adrenalina num evento desse tipo. 
 
EA - Mais alguma coisa que você gostaria de falar? 
 
Galvão - Convido a todos, não precisa ser um Ironman, ou ser um Meio Ironman, ou um maratonista neste momento. Nós temos aí várias opções, desde o caminhante até o cara que busca uma performance e um desafio maior. Então o leque é muito amplo e eu convido a todos a começar, ou pelo menos a ter essa iniciativa para a prática de esportes, para a prática de corrida. É democrático, é fácil. É só ter um pouco de disciplina, perseverança, o comprometimento e a força de vontade. O convite está feito e espero cada um de vocês em alguma prova da Latin, Brasil afora.