Luiz Fernando Corrêa tem a missão cuidar da segurança dos Jogos Olímpicos de 2016

Para liderar este processo, ninguém mais preparado que Luiz Fernando Corrêa, ex-Secretário Nacional de Segurança Pública, ex-Diretor Geral da Polícia Federal e atual Diretor de Segurança do Comitê Rio 2016 / Foto: Divulgação / Rio 2016Rio de Janeiro - O compromisso de entregar Jogos Olímpicos e Paraolímpicos seguros passa por um plano de ações integrado, operacionalizado pelos três níveis de governo (municipal, estadual e federal), articulados com o Comitê Organizador e em constante diálogo com organismos internacionais. Para liderar este processo, ninguém mais preparado que Luiz Fernando Corrêa, ex-Secretário Nacional de Segurança Pública, ex-Diretor Geral da Polícia Federal e atual Diretor de Segurança do Comitê Rio 2016.

“Na Polícia Federal, o meu objetivo era ser um bom policial. Ser delegado era um sonho de qualquer um que estava na carreira e eu busquei isso. Uma vez delegado, comecei a assumir algumas posições, trabalhando sempre com uma equipe excelente de profissionais. O próprio Secretário Beltrame (José Mariano Beltrame, atual Secretário de Segurança do estado do Rio de Janeiro) também vem desse grupo. Amadurecemos juntos. Depois, foi consequência. Ser Secretário Nacional nunca esteve no meu horizonte, ser Diretor Geral da Polícia Federal tampouco, porque isso é um universo que uma pessoa ocupa. Não pode ser o objetivo de alguém”, afirma.

“Quando virei Secretário Nacional, em 2003, foi uma convocação do então Ministro da Justiça, Marcio Thomaz Bastos, em função do trabalho como policial federal. Eu era totalmente novo, essencialmente um policial operacional, e virei um gestor de política pública. Passei três anos e meio lá. Amadureci como gestor e, em 2007, terminados os Jogos Pan-Americanos, quando conseguimos aplicar nossos conceitos e tudo correu bem, o governo achou por bem me colocar na direção da Polícia Federal”, completa Luiz Fernando, especialista em gestão de segurança pública pela Fundação Getúlio Vargas e um dos idealizadores da Força Nacional de Segurança Pública, programa de cooperação entre as polícias criado em 2004.

Sensação de segurança - A gestão bem-sucedida da segurança dos Jogos Pan-Americanos Rio 2007, quando o conceito de integração das polícias foi posto à prova e as primeiras experiências com polícia comunitária nas favelas geraram bons resultados, credenciou o Brasil a maiores pretensões. O projeto da candidatura olímpica na área de segurança recebeu avaliações mais positivas que projetos europeus e norte-americanos.

Provada a capacidade, mãos à obra. Ainda em fase de maturidade baixa, a Diretoria de Segurança será dividida em cinco gerências: Operações, Relações Institucionais, Inteligência, Relações Internacionais e Planejamento, Projetos e Logística. A interação com o provedor de segurança, que é o Estado, é permanente. O Comitê Organizador é um facilitador e fica responsável pela operação apenas nas instalações esportivas e não-esportivas dos Jogos.

“O grande compromisso brasileiro é entregar Jogos seguros lato sensu. O conceito de segurança é um pouquinho mais largo que atividade policial. Estamos falando de segurança stricto sensu, defesa civil e planos de contingência, porque nós temos que imaginar cenários paralelos aos Jogos. Nós vamos estar com o nosso pessoal prioritariamente focado no evento, mas o cidadão não pode ficar descoberto”, explica.

“Nós temos que ter a capacidade não só de prover segurança, mas prover segurança com discrição e passar a sensação de segurança. É um conjunto de variáveis que começa com a ambiência da cidade-sede, algo pré-existente. No Rio, hoje, já existe uma melhor sensação de segurança. Com base em análises de risco de delegações, de instalações, de trajetos de pessoas importantes, as medidas são adotadas. Isso é a parte objetiva, mas vai além. Um dos itens é a comunicação, é demonstrar. Você demonstra com divulgação prévia da capacidade instalada no Estado e do rigor no planejamento”, conclui.

Compromisso com a imagem do país - Na atual fase de planejamento, as experiências anteriores em Jogos Olímpicos geram informações valiosas. Ao fim de cada evento, as cidades-sede fazem o debriefing, ou seja, cumprem o ritual de avaliar e relatar erros e acertos na execução, gerando conhecimento para as próximas edições. O Comitê Olímpico Internacional (COI) acumula todo o histórico positivo e negativo. A cinco anos dos Jogos, é a vez do Rio 2016 colher informações.

Agregada a este know-how, a troca de dados com organismos e agências internacionais é fundamental. Além dos órgãos policiais e de segurança multilaterais, como a Interpol, os próprios Comitês Olímpicos Nacionais mantém estreita relação e contato constante com o Comitê Organizador em relação a suas demandas internas.

“O Brasil não tem tradição de acontecimentos trágicos como o terrorismo, mas este evento não é do Brasil. É do mundo. Nós devemos isso ao mundo. Os países vêm com seus atletas, com todo o espírito olímpico, mas não podemos negar que cada um deles traz suas mazelas, mesmo não querendo. Então, temos de neutralizar. O Brasil tem uma capacidade de inserção internacional nas redes de inteligência muito boa. A análise de risco é fundamental. É nosso papel fazer um plano em que a segurança esteja posta, para evitar as ocorrências e, caso aconteçam, que estejamos prontos para responder de imediato. Mas ainda mais importante do que a segurança posta é o conhecimento”, acredita Luiz Fernando.

Mais do que garantir Jogos sem sustos, a Diretoria de Segurança tem o compromisso com a imagem do país. Mesmo em um ambiente olímpico naturalmente leve e distensionado, os olhos do mundo focados no Rio geram desafios. Luiz Fernando Corrêa trabalha em equipe, ao lado de todo um aparato público que um dia comandou. Sua vasta experiência joga a favor, assim como o clima de celebração do carioca. Pela paz, os anfitriões não podiam ser melhores.

Aos 53 anos, o gaúcho de Santa Maria conta três décadas de serviços prestados ao Estado brasileiro. Em 1980, prestes a completar a graduação em Educação Física, um concurso público para agente da Polícia Federal fez o Brasil perder uma potencial estrela do voleibol. Começava, porém, a carreira de um dos quadros mais qualificados da área de segurança pública do país. Foram 14 anos como agente de repressão a entorpecentes. Em 1995, tornou-se delegado federal, após concluir a faculdade de Direito, e dali surgiram as oportunidades. Terminou convidado para os postos mais altos da hierarquia do setor.