Troca de equipe, perda do pai: a trilha de Gideoni até o Rio

Mistura de resistência e estratégia, a Omnium reúne seis provas em dois dias / Foto: Getty Images

São Paulo - Jogos Sul-Americanos de Santiago, no Chile. Era março de 2014. Última das seis corridas da Omnium, complexa prova do ciclismo de pista. Junto com o esforço, fluiu a emoção contida de Gideoni Monteiro.  
 
“Foi pouco tempo depois da morte do meu pai. Na última prova, as lágrimas desciam. Estava fazendo força para não sentir aquela dor. Meu pai me apoiava, eu sempre ligava para ele nas provas que fazia. Quando ele morreu, foi difícil”, conta o atleta, de 26 anos.
 
José Lusmar, maior incentivador de Gideoni, faleceu em um acidente de carro em janeiro de 2014, na mesma época em que o ciclista saiu da equipe onde treinava em Ribeirão Preto (SP).
 
“Quando eles me mandaram embora, pensei: ‘Meu pai gostava tanto do que eu fazia, tenho que continuar’. Decidi que iria até a Olimpíada, que era meu sonho, nem que fosse avulso. E a equipe de Santos me contratou logo depois”, recorda Gideoni.
 
Ali começava o caminho rumo ao Rio 2016. Gideoni entrou para a Aeronáutica, o que lhe garante um apoio importante, segundo o atleta. Foi campeão brasileiro na Omnium em 2014 e quarto no pan-americano do mesmo ano. Isso lhe deu a classificação para a Copa do Mundo da modalidade, competição que marcava o início da contagem de pontos para o ranking olímpico.
 
Gideoni estava iniciando um namoro e se acostumando à nova equipe quando teve de tomar uma decisão: sair da zona de conforto e ir para a Suíça, treinar com a seleção no centro que é referência do ciclismo de pista do mundo. A namorada, Raíssa Lira, deu apoio e a mudança ocorreu. Gideoni foi participando das etapas da Copa do Mundo e conseguiu a vaga para os Jogos Pan-Americanos de Toronto, no Canadá, em 2015.
 
“Quando eu soube da vaga no Pan, pensei: ‘Já que vou, quero brigar’. Dormia e acordava pensando nos Jogos. Cheguei a liderar a prova no primeiro dia. Não ganhei, mas fiquei com o bronze, uma emoção muito grande”, conta o atleta, que atualmente conta com o apoio da Bolsa Pódio do Ministério do Esporte.
 
Ele também relembra o tombo na terceira etapa da prova. “Eu me preparei tanto para chegar ali que, quando caí, só pensava em voltar. Não podia deixar um tombo me afetar. Voltei e terminei em segundo naquela prova”.
 
Passado o Pan, a busca por pontos no ranking seguiu para tentar a vaga olímpica. Era a reta final da luta pelo sonho que tanto lhe deu estímulo quando tudo parecia perdido. O Mundial, disputado em março na Inglaterra, era a chance final de somar pontos e ficar entre os 18 melhores no ranking, garantindo a vaga olímpica. O apoio do treinador Emerson Silva foi fundamental.
 
“São seis provas em dois dias. A Omnium requer estratégia e resistência. Para o Mundial, já estava muito cansado. Foram dois anos sem Natal, Ano Novo, e no final eu não estava aguentando. Meu técnico foi fundamental. Prova a prova, ele me colocava de volta sempre que ficava difícil”, conta Gideoni.
 
Deu certo: com o 18º no Mundial, Gideoni ficou em 15º no ranking e garantiu o Brasil nos Jogos após 24 anos de ausência no ciclismo de pista. “Desde que abriu o ranking, em 2014, houve planejamento, treinamento e sacrifício. É a primeira Olimpíada da América do Sul, vai ser uma festa legal e estou feliz de fazer parte. Até arrepio só de pensar”, diz Gideoni.
 
Mas ele não se satisfaz apenas em participar. “Sempre foi meu sonho. Agora que consegui, vou brigar. Não caí de paraquedas. Todo mundo que vai estar lá tem chance de medalha. O ranking começou com o mundo inteiro e ficaram 18. Vou dar 110% a cada dia para chegar competitivo, pronto, com a cabeça tranquila e colocar tudo em prática”, garante.
 
Influência do tio - Nascido em Groaíras, interior do Ceará, Gideoni se mudou com a família ainda pequeno para Aracaju (SE). Foi lá, aos 13 anos, que começou no ciclismo de estrada, por influência de um tio. Pelo esporte, mudou-se para Iracemápolis (SP), onde a primeira porta para o então adolescente se abriu em 2005, aos 15 anos. No lugar do vestibular, preferiu as pedaladas.
 
Após boa participação no Mundial, Gideoni foi convidado para treinar na Itália em 2009, ainda no ciclismo de estrada. Foram mais de dois anos na Europa e, na volta, o técnico Emerson Silva o convidou a experimentar as provas de pista.
 
“O Emerson me chamou para fazer um teste em 2012, em Maringá (PR), onde treina a Seleção. No mesmo ano, fui campeão pan-americano de perseguição individual na pista. Gostei e continuei. Conheci a Omnuim e vi que tinha muitas provas que se enquadravam nas minhas características”, conta o atleta.
 
Gideoni passou a treinar as duas modalidades, estrada e pista. Mudou-se para Indaiatuba (SP), onde um velódromo foi construído. A pista oficial, que contou com investimento de R$ 975 mil do Ministério do Esporte, foi inaugurada em outubro de 2014. O restante da obra, que inclui arquibancada para 5 mil pessoas, tem entrega prevista para abril.
 
O ciclista atualmente se divide entre os treinos em Indaiatuba (SP), no Centro de Treinamento da seleção no velódromo de Maringá (PR) e os intercâmbios no Centro Mundial de Ciclismo da União Ciclística Internacional, em Aigle, na Suíça, realizados pela Confederação Brasileira de Ciclismo (CBC) com apoio da Caixa Econômica Federal. Ele continua se dedicando ao ciclismo de estrada, que dá a resistência necessária para encarar bem as seis etapas da Omnium.
 
Se o cansaço é um grande obstáculo, Gideoni se apega à crença de que José Lusmar está feliz com toda a dedicação do filho. “Sempre que a coisa estava difícil, alguma coisa clareava. Meu pai não viu minha formatura na Aeronáutica, não viu minha medalha no Pan e não viu eu me classificar para Olimpíada, mas onde ele estiver, vai estar torcendo por mim”, diz.
 
 

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